Dramaturga e performer Ave Terrena Alves lança primeiro livro de poesias

A dramaturga, performer e escritora Ave Terrena Alves lança no dia 30 de maio, no Espaço Cultural Kazuá , o livro de poemas Segunda Queda, primeiro de sua carreira…

 

 

 

 

Acolhido pela Editora Kazuá, o projeto foi vencedor do PROAC – Poesia na edição de 2017. No dia do lançamento, haverá performances artísticas da cantora Valéria Houston, da atriz Veronica Valenttino e da cantora e atriz Danna Lisboa. Além do lançamento oficial, uma performance baseada no livro será encenada no dia 2 de junho, sábado, 21h, antes da sessão de As 3 Uiaras de SP City, peça de teatro escrita por Ave que estará em cartaz no Centro Cultural São Paulo.

Segunda Queda resgata ilustrações e textos que Ave Terrena compôs desde a adolescência até os dias de hoje. Dividido em duas partes (A Casa é Aqui / e vá pro olho da rua traaaaa), há no livro um uso frequente de transgressões às normas cultas da língua escrita e palavras abreviadas, como nos textos redigidos em conversas pela internet. Segundo a autora, o recurso traz à poesia um grau de informalidade necessária para que ela se mantenha viva e preserve significados íntimos.

Ave também utiliza, nos poemas, termos do pajubá – vocabulário popular inspirado em línguas africanas e indígenas a fim de possibilitar a comunicação cifrada entre travestis e que, em seguida, foi assimilado por parte da comunidade LGBTQ. A autora ressalta a importância da oratura no seu trabalho, uma tradição de “literatura” oral muito presente em diversas culturas, que busca preservar conhecimentos ligados à narratividade.

O título da obra, Segunda Queda, é uma referência às vivências de Ave enquanto transvestigênera – termo criado pela ativista Indianara Siqueira que pretende gerar oposição a rótulos que patologizam pessoas cujas identificações de gênero não sejam binárias.

As figuras das quedas se remetem, mais diretamente, a duas agressões sofridas por Ave em espaços públicos da cidade – uma quando tinha 17 anos e outra há dois anos, quando tinha 24. Pensar no tema da queda também a levou para leituras de relatórios da Comissão Nacional da Verdade (órgão que investigou violações de direitos humanos na época da ditadura militar), como a Operação Tarântula, instaurada na década de 80 e responsável por prender e torturar travestis que estivessem circulando em ambiente público. A deposição de Dilma Roussef, primeira e única presidenta eleita no Brasil, também foi objeto de reflexão da artista. Não coincidentemente, a epígrafe de Segunda Queda é um trecho do livro Queda Para o Alto, de Anderson Herzer (1962 – 1982), escritor e poeta trans que se suicidou aos 20 anos.

“Apesar de tudo, também vejo a queda como cura e não simplesmente como destruição. Reflito sobre como buscar sobrevivência dentro de tanto dificuldade. A queda sempre foi vista no ocidente como algo produzido por forças do mal. Tento me apropriar desse tópico pelo avesso para encontrar uma reexistência”, afirma Ave.

No livro também são abordadas a vida fragmentada pelo ambiente urbano, as inúmeras conexões diárias com o outro, a tecnologia tomando conta do conteúdo e das formas de se relacionar, o amor que se modifica inteiramente durante um processo de autoidentificação, a xenofobia na cidade de São Paulo em relação a outros estados brasileiros, a problemática da divisão injusta de classes sociais no Brasil, repressão social e individual, violência, sexo, falocentrismo e a identidade nacional fragmentada do povo brasileiro. O prefácio da obra foi escrito por Erika Hilton, ativista e pensadora contemporânea, mulher negra, trans, e estudante de gerontologia pela UFSCAR.

Parcerias
Como dramaturga e performer, Ave está habituada a trabalhar com processos de coletividade e criação conjunta. Trazendo isso para a literatura, a autora contou com a parceria do designer gráfico Kako Arancibio, responsável pelo projeto visual do disco Pajubá, de Linn da Quebrada.

Em Segunda Queda, Kako buscou ordenamentos para as ilustrações de Ave e propôs novas camadas visuais. A autora ressalta a coautoria com o artista, que também teve liberdade para criar e alterar imagens. “Os desenhos não são subservientes ao texto, mas estão em diálogo. No livro, há duas autonomias”, ressalta.

Já ao lado de Evandro Rhoden, diretor da Editora Kazuá, Ave irá iniciar um percurso inédito na sua carreira como coeditora: Nos próximos meses a editora irá anunciar a abertura de um edital para publicação de livros inéditos escritos por pessoas trans, processo em que Ave auxiliará com revisão e apoio na edição. Em breve, serão divulgadas mais informações a respeito da novidade.

Ainda a respeito das políticas de inclusão promovidas pela editora, pessoas trans terão direito a pagar por metade do preço original de Segunda Queda ao se autodeclararem trans no momento da compra do livro.

Pessoas trans autodeclaradas terão 50% de desconto na compra do livro, seja nas lojas físicas ou pelo site da Editora Kazuá

Segunda Queda
Ave Terrena Alves
Contracapa: Paloma Franca Amorim
Revisão: Danilo Horã
Prefácio e Orelha: Erika Hilton

 

 

Editora Kazuá
82 Páginas
R$ 40,00
R$ 20,00 para pessoas trans autodeclaradas

 

 

Lançamento de Segunda Queda
Espaço Cultural Kazuá
Rua Ana Cintra, 26 – Campo Elíseos
Quarta-feira, 30 de maio, às 20h

 

 

Performance – Segunda Queda
Rua Vergueiro, 1000 – Liberdade
Sábado, 2 de junho, 21h, antes da sessão do espetáculo As 3 Uiaras de SP City no Centro Cultural São Paulo

Ficha Técnica
Direção: Claudia Schapira
Atuação: Ave Terrena e Veronica Valenttino
Composições e música em cena: Gabriel Barbosa
Vídeos: Camila Marquez
Iluminação: Fly Goes

 

 

 

Ave Terrena Alves
É dramaturga e poeta transvestigênera, integrante do grupo de teatro Laboratório de Técnica Dramática desde 2015. Sua pesquisa sobre os relatórios da Comissão Nacional da Verdade foi contemplada pelo 4o Prêmio Zé Renato, resultando na peça “O Corpo que o Rio Levou”. A continuidade da pesquisa sobre a ditadura militar levou Ave a investigar as operações de perseguição às travestis ocorridas na década de 80, resultando no texto “as 3 uiaras de SP city”, que foi um dos vencedores da IV Mostra de Dramaturgia do Centro Cultural São Paulo (CCSP). A estreia acontece no dia 18 de maio. Integrante do projeto de intercâmbio teatral “Lugar da Chuva”, a dramaturga passou dois meses em residência artística na cidade de Macapá. Sua peça “O Amor Canibal” foi publicada em antologia pela editora do SESI, como conclusão do Núcleo de Dramaturgia SESI-British Council. Universitária do curso de Letras na USP.

 

 

Editora Kazuá
A Kazuá, que no dialeto africano significa “casa”, é uma editora presente há sete anos no mercado editorial que tem como enfoque principal conferir às obras e aos autores e autoras o devido reconhecimento. Com mais de 200 títulos publicados, acreditamos que cada livro, em si, contém um segredo, um mistério, um modo próprio de solucionar e significar sua publicação. Cada título, para nós, representa uma obra de arte. Para a concepção gráfica das publicações, buscamos sempre entrelaçar artes visuais e escritas, conferindo a cada livro um sentido único e original. Tendo como norte a inclusão, apresentamos diálogos que conversem com a sociedade e promovam debates acerca de temáticas relevantes aos âmbitos social e cultural. O que mobiliza nossa equipe é conhecer a intimidade de cada livro e propor o processo mais adequado para publicá-lo, levando, também em consideração, a posterior colocação de cada obra no mercado.

Foto: Camila Falcão

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