Agosto de Tracy Letts no Teatro Anchieta

Espetáculo que arrebatou o público e a crítica em 2017 faz sua primeira temporada em São Paulo, de quinta a domingo, com trama que pode servir como espelho reflexivo para qualquer indivíduo…

 

 

 

O Sesc Consolação, recebe no Teatro Anchieta, até 5 de agosto, o espetáculo Agosto, uma contundente e emocionante história sobre conflitos familiares. Uma peça sobre o inconfessável, sobre o que fica entalado na garganta e sufoca. A história de uma família desconectada, desfeita, cujos membros insistiram na união o quanto puderam, da forma que puderam, mas que chega finalmente ao limite da desistência. Apesar de se tratar de um texto denso, forte, há certa descontração na peça, uma divertida recusa em levar-se demasiado a sério, uma tendência a nos passar “rasteiras” cômicas justamente nos momentos que achamos que não há mais espaço para o riso.

 

 

Com adaptação e direção de André Paes Leme, elenco composto por Guida Vianna, Letícia Isnard, Alexandre Dantas, Claudia Ventura, Rubens Camelo, Eliane Costa, Guilherme Siman, Isaac Bernat, Julia Schaeffer, Lorena Comparato, Marianna Mac Niven e Isabelle Dionísio (que fará às duas últimas apresentações da temporada), Agosto é uma realização da Primeira Página Produções e Sarau Agência de Cultura.

Ainda que o autor americano Tracy Letts tenha construído todos os personagens da peça com complexidade e grande relevância para a trama, Violet (Guida Vianna) e Barbara (Letícia Isnard) são as suas protagonistas.

“Violet é uma mulher que vive numa situação limite, literal e metaforicamente falando. Literal porque faz quimioterapia para um câncer de boca e talvez sua morte esteja anunciada. Metaforicamente, porque sua família está se desmantelando: o marido sumiu, as filhas só esperam o funeral para partir e a ela só restará permanecer sozinha aos cuidados de uma empregada que ela não conhece. Barbara é a filha preferida porque Violet a julga a mais inteligente e a mais parecida com ela. Os temperamentos parecidos levam as duas a embates frequentes. Violet guarda profunda mágoa de Barbara porque ela não voltou pra casa quando soube do seu câncer, mas voltou quando o pai desapareceu. A peça conta uma história familiar na extensão de seus conflitos e de seus afetos. E essa família pode servir como espelho reflexivo para qualquer indivíduo,” afirma Guida Vianna, vencedora dos Prêmios Cesgranrio e APTR de Melhor Atriz por sua extraordinária interpretação da protagonista.

Também vencedora do Prêmio APTR, como atriz coadjuvante, Letícia Isnard defende a ideia de que “Barbara é uma mulher forte, que está num momento de total desestabilização. Seu casamento está ruindo, vive em crescente conflito com a filha adolescente, está a muito afastada das irmãs, do pai e bate de frente com sua mãe, Violet. Ela luta para não ter o mesmo destino da mãe: a solidão, consequente de uma personalidade forte, acachapante e agressiva. A tendência de Barbara é ficar igualzinha a Violet. E romper com esse ciclo de infelicidade e violência é também um ato de amor”.

O diretor André Paes Leme divide o palco nos cômodos da casa para uma “múltipla espacialidade” que vai exigir uma visão ativa do espectador. Vivendo entre o Rio e Lisboa – onde realiza os estudos do Doutorado na Universidade de Lisboa e onde já montou 5 espetáculos, o mais recente no início de 2017 como coordenador artístico da Escola da Cia Chapitô, por conta de uma encenação de grandes dimensões realizada no Museu Nacional de Arte Antiga, que reuniu mais de 70 jovens artistas de circo –, André Paes Leme comenta a montagem dizendo que o primeiro cuidado que teve com a adaptação foi “suavizar o contexto norte-americano” da peça. O segundo foi em relação ao “realismo acentuado” proposto pelo autor: “Priorizei as situações de conflito e busquei não valorizar ao detalhe a construção do ambiente de cada cena”, explica. “Me interessa a complexidade das relações familiares, a intensidade com que depositamos no núcleo familiar tanto um amor inquestionável como também despejamos as angústias e inseguranças das nossas vidas”, diz o diretor. “Textos como esse revelam o quanto imprevisível é o comportamento humano”.

A montagem divide o palco nos cômodos da casa em que se passa a história, avisa Paes Leme: “A ação passeia por todos os cômodos e a proposta do autor é que o espectador possa ver simultaneamente todos os ambientes. Na nossa concepção, as cenas são sobrepostas: a personagem que está num determinado ambiente estará exatamente ao lado de outra que ocupa outra área da casa. Gradativamente, as diferentes cenas vão convivendo no palco”.
Se o destino das personagens é inevitavelmente trágico, isso não faz de Agosto uma tragédia. Tracy Letts usa recursos do melodrama, da comédia de costumes, das sitcoms da televisão norte-americana e do vaudeville, mantendo a unidade formal, a coerência interna e estética da sua obra.

Tracy Letts é um dos mais importantes autores do teatro contemporâneo dos EUA. Nascido em Tulsa, Oklahoma, é um dos mais importantes autores norte-americanos vivos. Vencedor dos prêmios Pulitzer na categoria Melhor Drama e Tony na categoria Melhor Texto, August: Osage County estreou em Chicago em 2007, na montagem do Steppenwolf Theatre Company (companhia a que pertence Letts), encenada depois em Nova York e Londres, entre outras cidades e países. Em 2013, a obra inspirou o filme Álbum de Família protagonizado por Meryl Streep e Julia Roberts, além de Ewan McGregor, Juliette Lewis, Sam Shepard e Benedict Cumberbatch. E agora tem sua primeira montagem no Brasil pelas mãos da produtora Maria Siman, da Primeira Página Produções, em parceria com Andrea Alves e Sarau Agência de Cultura Brasileira. Responsável pela produção de importantes espetáculos como Ensina-me a Viver, O Pequeno Príncipe, O Grande Circo Místico, Incêndios e Maria do Caritó, Maria Siman adquiriu os direitos do texto teatral para montagem no Brasil após assistir ao filme Álbum de Família. “Percebi que se tratava de dramaturgia adaptada para o cinema e parti em busca dos direitos de montagem da peça no Brasil”, lembra.

Ficha Técnica
Texto: Tracy Letts
Tradução: Guilherme Siman
Direção e Adaptação: André Paes Leme
Elenco/personagens: Guida Vianna (Violet Weston), Letícia Isnard (Barbara Fordhan), Alexandre Dantas (Steve Heidebrecht), Claudia Ventura (Karen Weston), Rubens Camelo (Charlie Aiken), Eliane Costa (Mattie Fae Aiken), Guilherme Siman (Charles Júnior), Isaac Bernat (Beverly Weston/Bill Fordham), Julia Schaeffer (Johnna Monevata), Lorena Comparato (Jean Fordham), Marianna Mac Niven (Ivy Weston)
* Apenas nas sessões dos dias 4 e 5 de agosto, a atriz Isabella Dionísio fará a personagem Jean Fordham e a atriz Lorena Comparato fará a personagem Karen Weston*
Diretor Assistente: Anderson Aragón
Cenografia: Carlos Alberto Nunes
Figurino: Patrícia Muniz
Iluminação: Renato Machado
Música: Ricco Viana
Projeto Gráfico: Mais Programação Visual
Fotografia: Silvana Marques
Assessoria de Imprensa: Morente Forte Comunicações
Coordenação de Produção: Vivi Borges e Leila Maria Moreno
Produção Executiva: Fernanda Silva e Felipe Valle
Direção de Produção: Andrea Alves e Maria Siman
Idealização e Coordenação Geral: Maria Siman
Realização: Primeira Página Produções e Sarau Agência de Cultura Brasileira

 

 

 

 

Agosto
Teatro Anchieta
Sesc Consolação
Rua Doutor Vila Nova, 245 – Consolação
Informações: 3234.3000
Capacidade: 280 lugares
Duração: 130 minutos
Temporada: até 05 de agosto
Quinta a Sábado, às 21h
Domingo, às 18h
Ingressos:
R$ 40,00
R$ 20,00 (meia-entrada: estudante, servidor de escola pública, +60 anos, aposentado e pessoa com deficiência)
R$ 12,00 (credencial plena: trabalhador no comércio de bens, serviços e turismo matriculado no Sesc e dependentes)
Recomendação: 16 anos
Ingressos à venda pelo Portal SESC e em toda rede Sesc SP

 

Guida Vianna
Formada em Comunicação Social pela PUC Rio, Guida Vianna estudou teatro no curso do Tablado entre 1971 e 1975, onde desde 1980 leciona improvisação teatral, tendo dirigido mais de 20 peças com seus alunos. Foi redatora da revista Cadernos de Teatro durante 15 anos. Atuou em seis novelas, quatro mini-séries e sete filmes. Atriz, diretora e produtora, Guida Vianna foi indicada quatro vezes ao prêmio de melhor atriz, ganhando o Prêmio Shell em 2004 e o Prêmio Qualidade Brasil 2006. Já participou de mais de 30 espetáculos teatrais. Além dos trabalhos de grupo (a sua formação), já representou vários autores importantes: Brecht, Arrabal, Shakespeare, Albee, Beckett, Pinter, Tennessee Williams, Schnitzler, Sheridam, Visniec. Interpretou Hamm, de Samuel Beckett, em Fim de Jogo, personagem associado a grandes atores. Atualmente integra o elenco da série infantil Valentins, do canal Gloob, como a vovó Reggy, que em 2018 estreia a 2ª temporada.

 

Fotos: Silvana Marques e Claudia Ribeiro / Divulgação

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