Sesc Santo Amaro recebe espetáculo Boca de Ouro, de Nelson Rodrigues

Dia 16 de maio no Sesc Santo Amaro, o Grupo Oficcina Multimédia, de Belo Horizonte estreia espetáculo com direção de Ione de Medeiros, artista que está à frente da companhia mineira há 36 anos. O espetáculo Boca de Ouro completa a Trilogia da Crueldade, peças encenadas pelo GOM que discutem a violência na história da humanidade…
 

 

 

Com um histórico de criações artística-multilinguísticas, onde os espetáculos trazem recursos da performance, do teatro e da música, o Grupo Oficcina Multimédia chega a São Paulo com o espetáculo Boca de Ouro, o segundo da história de toda a companhia a utilizar como base um texto teatral na íntegra – o primeiro foi A Casa de Bernarda Alba, de 2001.

A história do Boca de Ouro acontece em Madureira, subúrbio do Rio de Janeiro, mas na montagem da companhia, o espetáculo se desenvolve em um outro cenário. “Pensamos em trazê-lo para o interior de uma casa que poderia ser de um mafioso pertencente a qualquer lugar do mundo.

Neste ambiente intimista, duas portas se abrem para o interior da casa de D. Guigui, a personagem que conta a história do Boca de Ouro por meio de três versões diferentes”, conta Ione de Medeiros, que também assina cenografia e figurino.

Ione, que iniciou a carreira artística como pianista, conta que os espetáculos do GOM (Grupo Oficcina Multimédia) possuem um conteúdo mais abstrato e são criados justamente a partir de um olhar que integra várias linguagens artísticas. “Entrei para o teatro pela porta da música, então penso a cena a partir de movimento e sonoridade. O aparato visual das peças que dirijo têm formas e gestos criados a partir de elementos que a música sustenta”, explica.

Na montagem, os integrantes se dividem em diversos personagens e o Boca de Ouro é duplicado, interpretado por dois atores. Mesmo com a presença de uma atriz, os atores fazem papéis masculinos e femininos.

As roupas são escolhidas de acordo com a situação ou com o temperamento dos personagens e artistas pop aparecem como referência no figurino da peça. “Michael Jackson é uma afinidade eletiva presente no figurino e na dança. Michael foi lembrado por sua história como pop star que escolheu ser enterrado em um caixão de ouro, o mesmo sonho do personagem do Nelson Rodrigues”, explica.

A artista diz que a ideia de retornar a uma peça de dramaturgia mais tradicional surgiu após a criação da peça Macquinária 21 (2016), inspirada pela tragédia Macbeth, de Shakespeare. “Nelson Rodrigues tem muito em comum com Shakespeare, como pelo fato das personagens de ambos serem vítimas de desejos inconscientes e incontroláveis”.

Na montagem, Ione fez questão de preservar expressões, gírias e maneirismos contidos no texto de Nelson. Para ela, esses recursos conferiram agilidade e um modo mais fluído de construir a peça.

O cenário escolhido para dialogar com esse estilo é bastante versátil: uma porta que se levanta torna-se a casa de dona Guigui, e uma mesa que serve de escrivaninha numa redação de jornal também faz às vezes de um caixão.

Outros elementos simples e com usos variados estão repartidos no palco na forma de um triângulo, o que também fortalece a proposta do próprio enredo, um entrelace de três histórias.

Boca de Ouro completa a Trilogia da Crueldade, peças encenadas pelo GOM que discutem a violência na história da humanidade. Aldebaran (2013), a primeira peça, é sobre o irreal, do medo e dos monstros alimentados pelas guerras e disputas pelo poder; Macquinária 21’ (2016), tem como foco o Governo e a sede de poder que levou o rei a ser morto antes de assumir seu posto. Já Boca de Ouro revela até onde o ser humano é capaz de ir para ascender socialmente.

Ione ressalta que a estrutura fragmentária da obra de Nelson Rodrigues fez com que a montagem tivesse muito a ver com a própria linguagem do Grupo Oficcina Multimédia. “O texto não se encarrega de tudo, ele é parte dos recursos estilísticos que contam essas histórias ao público”, conta.

O elenco é composto por Camila Felix, Gustavo Sousa, Henrique Mourão, Jonnatha Horta Fortes, Lucas Prado e Victor Hugo Barros. Jonnatha Horta Fortes é o assistente de direção, figurino e preparação corporal. Francisco César é o responsável pela trilha sonora. Agostinho Paolucci, Lucas Fainblat e Rafael Pimenta são as participações especiais na trilha do espetáculo.

Ficha Técnica
Direção, cenário e figurino: Ione de Medeiros
Assistente de direção, figurino e preparação corporal: Jonnatha Horta Fortes
Elenco: Camila Felix, Gustavo Sousa, Henrique Mourão, Jonnatha Horta Fortes, Lucas Prado e Victor Hugo Barros
Texto: Nelson Rodrigues
Trilha sonora Francisco Cesar
Finalização: Pedro Durães
Participações especiais: Agostinho Paolucci, Lucas Fainblat e Rafael Pimenta
Operação de som: Jair Ferreira (Junão)
Iluminação: Bruno Cerezoli
Operação de luz: Jimmy Wong
Projeto Gráfico: Adriana Peliano
Assessoria de imprensa: Canal Aberto
Orientação em danças urbanas: Leandro Belilo
Orientação teórica: Leda Martins e Ram Mandil
Fotógrafo: Netun Lima
Produção: Grupo Oficcina Multimédia
Produção SP: Rodrigo Fidelis – Corpo Rastreado
Teaser: Henrique Mourão sobre arte de Adriana Peliano

 

 

 

 

 

 

Boca de Ouro
Sesc Santo Amaro
Rua Amador Bueno, 505 – Santo Amaro
Capacidade: 279 lugares
Duração: 85 minutos
Temporada: de 16 de maio a 9 de junho de 2019
Quintas, sextas e sábados, às 21h
Domingo, às 18h
Ingressos:
R$ 30,00 (inteira)
R$ 15,00 (meia)
R$ 9,00 (credencial plena)
Classificação: 14 anos.
Bilheteria e horário da unidade: Terça a sexta, das 10h às 21h30. Sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h30
Acessibilidade universal
Estacionamento da unidade: R$ 5,50 a primeira hora e R$ 2,00 por hora adicional (Credencial Plena); R$ 12,00 a primeira hora e R$ 3,00 por hora adicional (outros).
Disponibilidade: 158 vagas para carros e 36 para motos.
A unidade possui bicicletário gratuito.

 

Grupo Oficcina Multimédia
Fundado em 1977, o Grupo Oficcina Multimédia pertence à Fundação de Educação Artística, FEA, desde que foi criado pelo compositor Rufo Herrera no Curso de Arte Integrada do XI Festival de Inverno da UFMG e BH.

O espetáculo Sinfonia em Réfazer, de 1978, inaugurou a linguagem multimeios e, pela primeira vez, levou para o palco os instrumentos de Marco Antônio Guimarães (UAKTI) integrados ao texto, movimento e material cênico.

Desde 1983, sob a direção de Ione de Medeiros, o Grupo mantém um permanente trabalho de corpo, voz, rítmica corporal e pesquisa de material cênico no processo de elaboração de seus espetáculos. Até este período, Ione se dividia entre atuação e direção, até que decidiu se dedicar exclusivamente à direção do grupo, começando com Biografia – Joguinho do poder (1983) e K (1984). Depois vieram Domingo de Sol, Trilogia Joyce, Zaac e Zenoel, A Casa de Bernarda Alba, BaBACHdalghara, Macquinária 21 e muitos outros.

 

Foto: Netun Lima

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