Inhai – Coisa de Viado estreia no Teatro Pequeno Ato

Coletivo Inominável estreia peça sobre o Universo Gay, com dramaturgia de Fernando Pivotto e Cezar Zabell, que também assina a direção, Inhai – Coisa de Viado traz à cena uma reflexão sobre a homofobia no Brasil atual de uma forma política e poética…

 

 

 

 

 

Inhai – Coisa de Viado estudos científicos, fatos históricos e notícias recentes são usados como material cênico pelo Coletivo Inominável, que bebe na fonte dos conceitos e procedimentos do Teatro Documentário. Resposta poética ao clima de convulsão social e conservadorismo que assola o mundo contemporâneo, a montagem estreia dia 6 de setembro, sexta-feira, às 21h, no Teatro Pequeno Ato.

Partindo da pergunta “o que é ser viado na cidade de São Paulo em 2019?”, o espetáculo tem dramaturgia de Fernando Pivotto e Cezar Zabell, que assina a direção. Pivotto também está em cena ao lado de Cayke Scalioni e da drag queen Alexia Twister. Inhai – Coisa de Viado é um espetáculo-celebração numa época em que comemorar a identidade gay é um ato de resistência (o título da peça já brinca com a expressão de falar “e aí” popularizado pela drag queen Sylvety Montilla), além de ser uma reflexão sobre a homofobia no Brasil, desde a violência imposta pelos jesuítas a índios que desviavam a heteronormatividade europeia até os dias atuais.

A montagem também marca as quatro décadas de história do movimento LGBTQ+ e traz à cena relatos de experiências de homens homossexuais que vivem na São Paulo do início do século XXI, marcando semelhanças e divergências com os integrantes do grupo. Para isso, a peça passa pelos estágios da vida: desde a infância à vida adulta e ao o questionamento sobre o futuro e os anseios de tempos melhores.

 

Ponto de encontro, debate e partilha
Investindo nos recursos documentais apresentados em esquetes e monólogos e apoiado em uma dramaturgia não-linear, Inhai – Coisa de Viado explora o conceito de “apresentar” ao invés de “representar”, colocando os atores num estado cênico que não é o da criação de personagens naturalistas ou farsescos, mas sim o do estabelecimento de uma presença performativa.

Para o dramaturgo e diretor Cezar Zabell, a ideia é valorizar a potência cênica de recursos simples ao invés de estruturas complexas. “A direção se apoiou na vivência dos atores e nos anseios do que eles queriam dizer ao público. Assim criei paralelos para falar do macro, pelo micro, e trouxe os atores para uma relação mais próxima com a plateia. Uma vez dentro do espaço cênico, público é convidado a participar ativamente do espetáculo, seja dando sua opinião sobre determinado tema ou jogando com os atores”, explica ele.

Inhai – Coisa de Viado deseja ser, então, a reflexão dos homens gays do coletivo sobre suas sexualidades, identidades e necessidades assim como também deseja ser um ponto de encontro, debate e partilha. “O espetáculo pretende ser a denúncia da violência que ainda sofremos, mas também a celebração de nossa identidade. No país que mais mata LGBTQ+ no mundo, celebrar a nossa existência nos parece uma potente estratégia contra a violência, uma urgência e um direito”, diz o dramaturgo e ator Fernando Pivotto.

O espetáculo também traça alguns paralelos entre o veado (animal) e o viado (gay) mesclando a anatomia dos bichos e dos homens, simbologia e mitologia. Na mitologia chinesa, por exemplo, o veado representa fertilidade e saúde e é símbolo de virilidade em países do hemisfério norte, mas no Brasil ganhou conotação contrária. Por aqui, viado, na linguagem de rua significa homossexual masculino passivo.

 

Homofobia no Ocidente
Para levar o espetáculo ao palco, o Coletivo Inominável pesquisou a história do movimento LGBTQI+ no Brasil e encontrou vasto material de grupos de militância, como o Somos e o Grupo Gay da Bahia. Fernando Pivotto e Cezar Zabell se debruçaram sobre artigos de estudiosos do tema, como João Silvério Trevisan, James N. Green e Bruno Bimbi, além dos documentários São Paulo em Hi-fi, de Lufe Steffen; Abrindo o Armário, de Dário Menezes e Luís Abramo e Lampião da Esquina, de Lívia Perez.

“Foram materiais importantes para nos mostrar como era a vida dos homossexuais em períodos distintos no país. Utilizamos também notícias recentes como material cênico, de modo que cenas já existentes podem ser alteradas e cenas novas podem surgir”, conta o diretor.

Já Fernando Pivotto explica que Inhai – Coisa de Viado expõe as motivações sociais e políticas da homofobia no país e no Ocidente. “Pela complexidade do assunto e pela pluralidade presente sob o guarda-chuva LGBTQ+, o espetáculo é um recorte deste tema, focando especificamente nos depoimentos de homens gays. Muito mais do que acentuar o protagonismo gay dentro do movimento, a ideia da peça é promover um recorte dentro desta diversidade para olhar com cuidado para o assunto de nosso estudo, analisando poeticamente e com responsabilidade a já complexa situação dos homens gays de agora”.

 

Soldados em miniatura
Com um triângulo rosa (em referência à categorização dos prisioneiros homossexuais em campos de concentração nazista) feito de lâmpadas fluorescentes, a cenografia de Inhai – Coisa de Viado se apoia também em projeções de vídeos e informações, como mapas-múndi com países onde ainda é crime ser homossexual.

O figurino é composto de macacões curtos em veludo na cor marrom/ caramelo, que evocam a figura do animal veado, e vários adereços, como bonequinhos de soldados em miniatura, referência ao Transtorno de Estresse Pós-Traumático, condição que é desenvolvida ao se passar por situações de risco, perigo e tensão extremos. Soldados que voltam de zonas de conflito geralmente desenvolvem o transtorno e estudos recentes apontam que os homossexuais contemporâneos, que vivem em centros urbanos também. Já a trilha sonora é composta por músicas que trazem significados para os gays de hoje.

Ficha Técnica
Dramaturgia – Fernando Pivotto e Cezar Zabell
Direção – Cezar Zabell
Elenco – Alexia Twister, Cayke Scalioni e Fernando Pivotto
Assistente de Direção – Fernando Pivotto
Figurinos – Cezar Zabell
Design de Luz – Larissa Kaluzinski
Design de Projeção – Cayke Scalioni
Desenhos Originais – Bruna Sizilio
Operação de Luz e Projeção – Murilo Góes
Operação de Som – Samantha Sarahyba
Preparação Corporal – Rico Malta
Fotografia – Giovanni Fernandes
Assessoria de Imprensa – Nossa Senhora da Pauta

 

 

 

 

 

Inhai – Coisa de Viado
Teatro Pequeno Ato
Rua Teodoro Baima, 78 – Vila Buarque
Tel.: (11) 99642-8350
Capacidade: 40 lugares
Duração: 80 minutos
Estreia sexta-feira, dia 6 de setembro, às 21h
Recomendado para maiores de 18 anos
Temporada: Até 28 de setembro
Sextas-feiras e sábado, às 21h
Ingressos:
R$ 40,00
R$ 20,00 (meia-entrada)
Venda pelo link: bilheteria express

 

Sobre o Coletivo Inominável

Fundado em 2015 com o intuito de pesquisar, tensionar e borrar os limites entre palco e plateia e de utilizar procedimentos contemporâneos na encenação de textos clássicos e na criação de dramaturgia autoral, o Coletivo Inominável tem em seu histórico as produções A Gaivota Ou Manual de Etiqueta Para o Ritual do Suicídio (2015), reimaginação do clássico de Tchekhov que encenava a festa de estreia de um espetáculo e A Casa de Bernarda Alba (2017), de Garcia Lorca, com um elenco de mulheres cisgênero e drag queens e que visava discutir as performances de gênero na Espanha de 1936 e no Brasil atual, além de investigar, cenicamente, a clausura, fazendo público e elenco partilhar o mesmo espaço limitado. O espetáculo foi montado a partir de uma residência na Casa Um, centro de acolhida LGBT em São Paulo.

Foto: Giovanni Fernandes

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