Teatro do Sesc Santo André apresenta Francesco, texto do Nobel Dario Fo

O ator Paulinho Goulart protagoniza peça sobre a história de São Francisco de Assis. O monólogo tem mais de 20 personagens, entre eles, um lobo. A encenação é calcada na arte do ator. A característica do espetáculo é dada pela música, cenário e figurino, que ajudam a contar as histórias de forma intrigante e performática. De 21 de janeiro a 12 de fevereiro…

 

 

 

 

 

 

 

Talentosa e de personalidade inquieta, a diretora Neyde Veneziano apresenta sua mais recente criação artística, a peça de teatro Francesco. Último texto do Nobel de Literatura Dario Fo (1926-1916), sobre a vida de São Francisco de Assis, baseado nas histórias que o povo contava. A obra reestreia para temporada de 21 de janeiro a 12 de fevereiro de 2022, sextas às 21h e sábados às 20h (8 sessões), no Teatro do Sesc Santo André. Espetáculo cumpriu temporada em São Paulo, em 2019, no Teatro do CCBB-SP e no teatro do CCBB-BH, em 2020. Autoridade sobre a obra do dramaturgo contemporâneo mais encenado no mundo, a diretora – que passou um ano em Milão, entre 2000 e 2001 debruçada sobre a obra de Fo, pesquisando o acervo da companhia, vendo vídeos, assistindo aos espetáculos, ensaios e palestras – convidou o ator Paulo Goulart Filho para a interpretação e cercou-se de equipe de criativos formada por Fábio Namatame (cenário e figurino), Daniel Maia (música) e André Lemes (iluminação).

No tempo em que passou na Itália, por conta de sua pesquisa de pós-doutorado, Neyde Veneziano – autora do único livro sobre Dario Fo publicado no Brasil – conviveu com quem considera a “figura mais emblemática de um tipo de teatro que não se esquece da plateia e das causas sociais”, inclusive frequentando sua casa. Quando Fo morreu, em 2016, Veneziano já havia traduzido o texto e estava com os direitos de montagem da peça. Na época, Neyde estava encenando MisteroBuffo, com Domingos Montagner e era desejo do ator interpretar o personagem. Mas Domingos morreria logo depois, no mesmo ano de Dario Fo. Ao encontrar o ator Paulinho Goulart, Veneziano, finalmente, encenou Francesco.

Ao propormos a volta de Francesco aos palcos brasileiros, em um momento tão triste e difícil, lembramos que Francesco viveu entre os séculos XII e XIII (1181- 1226), quando a lepra invadiu a Europa no rastro das Cruzadas, enquanto a Peste Negra se aproximava e dizimaria o continente no século seguinte. Desafiando epidemias, cuidando de leprosos, dando lições sobre como cuidar da vida e da natureza, Francesco deixou sua mensagem de amor genuíno a todos os que tiveram acesso às suas palavras e sua história. Essa história foi recriada por Dario Fo de maneira leve, divertida, colorida e musicada, porém envolvida nos mais claros conceitos da filosofia franciscana.

Nos primeiros meses de trabalho, diretora e ator se encontravam virtualmente – ela, em seu apartamento em São Paulo; ele no Rio, faziam ensaios de mesa, como são chamados os primeiros ensaios do texto, por Skype. No começo de julho, Paulinho veio para São Paulo e os trabalhos passaram a acontecer de forma presencial, como manda o figurino.

Desafio de Paulo Goulart Filho
A respeito do convite para fazer o espetáculo, Paulinho recebeu a surpresa como um desafio. “Quando a Neyde falou comigo fiquei muito feliz e, ao mesmo tempo, apavorado. Fazer um monólogo! E ainda mais do Dario Fo! Que desafio! Nossa profissão é assim, somos movidos por desafios”. Bailarino, ator, cantor, Paulo Goulart Filho reúne as habilidades e características desejadas por Neyde para o papel. Em cena, além do próprio Francisco, interpreta todos os outros personagens que contracenam com ele. Além dos sete personagens principais – Francesco, cardeal, narrador, o lobo, o papa (o antagonista), o Colona e o padre – Paulinho interpreta o pai, a mãe, as pessoas da igreja e os amigos, num total de 25 tipos diferentes.

“Enfim, uma gama de diversos tipos e características físicas, o que é um grande exercício de interpretação. Não estamos trabalhando com o naturalismo, mas sim com tipos, arquétipos e uma linguagem farsesca de contadores de histórias. Preciso utilizar toda a minha experiência como ator, todos os meus recursos e repertório físico, vocal e emocional para transformar o texto em um espetáculo divertido, performático e emocionante para o público. Confesso que dá um friozinho na barriga só de pensar. Mas isso que é bom em nossa profissão. Nunca estamos no lugar comum, na zona de conforto, sempre estamos na corda bamba sobre um precipício. “Ser ator é isso, mergulhar num buraco negro sem saber o que está em baixo.”

Paulo conta que o processo de trabalho nos ensaios foi gratificante e prazeroso, no sentido de explorar todas as possibilidades físicas e vocais para compor os personagens e contar as histórias de forma intrigante e performática. Sobre ser dirigido por Neyde Veneziano, não mede elogios: “Neyde é uma diretora que permite ao ator participar de todo processo criativo, aceitando sugestões e dando espaço para desenvolver a criatividade tanto na construção dos personagens como na concepção cênica. Isso faz com que o ator se sinta parte integrante do processo criativo e, assim, o espetáculo se torna parte do ator também. É uma diretora extremamente criativa, generosa e sabe como dirigir um ator mostrando os caminhos no sentido de ritmo, compreensão do texto, fisicalidade e voz. Enfim, além de uma grande encenadora, é também uma excelente diretora de atores”.

Castelo de Ferrara e sessão de teatro
Dario escreveu o texto no final dos anos 90 e, de acordo com Neyde, ele era um “cômico em revolta”. Dario Fo encenou Francesco com o nome original de Lu SanctuFrançescoGiullare. “É assim mesmo que se escreve, pois está em dialeto Umbro. Francesco nasceu em Assis, uma cidade na Úmbria”, informa Neyde. “A primeira vez que assisti ao Francesco foi em Ferrara. Participei da montagem da Mostra PupazziconRabbia e Sentimento (é como chamam a exposição dos quadros e obras de arte do Dario). Ele chegou depois e fez Francesco, no Castelo de Ferrara, Quase morri”.

Neyde seguiu Dario durante todo o tempo em que morou na Itália. “Uma das apresentações interessantes foi em San Sepolcro (um vilarejo da Toscana, perto de Arezzo). Fui com ele no carro, que ia explicando porque a cidade tinha esse nome. Depois que o Bergoglio foi escolhido Papa e adotou o nome de Francisco, Dario Fo fez significativas mudanças no texto. Este novo texto nunca foi publicado. Só eu tenho essa versão. E é a que estamos encenando.” Neyde lembra que Dario Fo era muito solicitado por políticos, governadores, presidentes e até por reis. “Fiquei muito intimidada quando cheguei e pedia licença para me aproximar”. Um amigo brasileiro, técnico da CTFR (Compagnia Teatrale Fo e Rame) aproximou-a de Franca Rame, de quem ficou amiga. A mulher de Dario Fo abriu caminho para que Neyde sempre falasse com o dramaturgo.

“Cheguei a acompanhá-lo a uma sessão de teatro porque Franca não quis ir.” Depois da conclusão do pós-doutorado, ela retornou à Italia todos os anos. No verão de 2005, foi a Cesenatico (região de Emilia Romagna) e dormiu na casa de praia deles.

Ficha Técnica
Direção e Adaptação: Neyde Veneziano. Texto: Dario Fo. Tradução: Sérgio Casoy. Interpretação: Paulo Goulart Filho. Assistente de Direção: Tony Germano e Mariana Mantovani. Iluminação: André Lemes. Trilha Sonora: Daniel Maia. Cenário e Figurinos: Fábio Namatame. Fotografia e Vídeo: Rodrigo Veneziano. Produção Executiva e Administração: Michelle Gabriel. Assistente de Produção: Ioneis Lima. Assessoria de Imprensa: ArtePlural/M. Fernanda Teixeira.

 

 

 

 

 

 

Francesco 
Sesc Santo André
Teatro
Rua Tamarutaca, 302 – Vila Guiomar – Santo André
Informações: (11) 4469-1200
Temporada – De 21 de janeiro a 12 de fevereiro
Sextas às 21h e sábados às 20h (8 sessões)
Duração: 70 minutos
Classificação: 14 anos
Ingressos – R$ 40,00 (inteira) para o público geral e R$ 20,00 (meia-entrada) para público com credencial plena válida e categorias elegíveis ao desconto de 50%, de acordo com a legislação vigente. Estacionamento – R$6,00 -portadores de Credencial Plena válida e R$11,00 – público geral.
Venda de ingressos – Para estreia.
Online: a partir das 14h de 18/01, no Portal Sesc SP.
Presencial: a partir das 17h de 19/01, nas bilheterias da Rede Sesc SP.
A entrada nas unidades para compra de ingressos segue os protocolos de segurança contra Covid-19. Importante: para as demais sessões da temporada, a venda de ingressos segue a mesma dinâmica e abre na terça e quarta-feira da semana de realização dos espetáculos.

Protocolos – Para adentrar as unidades do Sesc no estado de São Paulo é necessário apresentar comprovação das duas doses da vacina, ou dose única, contra a Covid-19 junto com um documento com foto. O público pode apresentar o comprovante de vacinação físico, recebido no ato da vacinação, ou o comprovante digital, disponibilizado pelas plataformas VaciVida e ConectSUS ou pelo aplicativo e-saúdeSP. Mais informações em: www.sescsp.org.br/voltagradual. O uso de máscaras cobrindo nariz e boca é obrigatório durante o tempo de permanência nos espaços.

Os teatros do Sesc operam, neste momento, com capacidade reduzida de público. Com distanciamento seguro entre fileiras e cadeiras e uso obrigatório de máscaras, a unidade segue rigorosamente os protocolos para contenção do coronavírus.Os shows, peças teatrais, espetáculos de dança e circo tem ingressos marcados, que podem ser adquiridos online, pelo Portal Sesc SP, ou presencialmente nas bilheterias das unidades que integram a Rede Sesc SP.

 

 

Sobre Neyde Veneziano
Especialista em Teatro Musical Brasileiro, Neyde Veneziano dirigiu 40 espetáculos em São Paulo e outros em Campinas, Florianópolis, Lisboa (PT) e Milão (IT). Recebeu vários prêmios por suas encenações, entre eles dois APCAs, dois Mambembes e uma indicação ao Shell-2013 como Melhor Diretora por Mistero Buffo, com o Grupo LaMinima (Domingos Montagner e Fernando Sampaio). Em 1988/1989, seu espetáculo Revistando o Teatro de Revista conquistou mais de 15 prêmios, tendo permanecido dois anos em cartaz, apresentando-se em temporada no Rio de janeiro e São Paulo e em vários teatros do Brasil.Neyde é Professora Doutora em Artes Cênicas pela USP, professora orientadora na UNICAMP e autora de cinco livros sobre Teatro de Revista, sendo considerada a pesquisadora brasileira precursora na área de teatro musical.

Entre 2000 e 2001, viveu na Itália, fazendo seu pós-doutorado sobre Dario Fo, na Universidade de Bolonha. Desta importante pesquisa resultou seu livro A Cena de Dario Fo: O Exercício da Imaginação (Ed. Nobel). Este é o único trabalho sobre Dario Fo escrito em língua portuguesa. Em 2019, está lançando o documentário intitulado Mamãe, eu quero ser vedete que apresenta atrizes do antigo Teatro de Revista ao lado de Silvio de Abreu e Claudia Raia, como representantes contemporâneos do gênero. Trata-se de mais uma obra de Neyde Veneziano com o propósito de valorizar a brasilidade em palcos paulistanos.

 

Sobre Paulo Goulart Filho
Estreou na televisão em 1976 na novela Papai Coração, extinta TV Tupi, e no teatro em 1985 na peça Dona Rosita, a solteira, atuou em mais de sessenta espetáculos como ator e/ou bailarino, entre eles: Cabaret, Não fuja da Raia, A Margem da Vida, Enfim sós, Sábado, domingo e segunda, O cavalo na montanha, Quartett, Adoráveis sem vergonhas, A Tempestade, Quarto 77, Os 39 degraus, As luzes do Ocaso, Chaplin, o musical. Trabalhou com diretores como Antônio Abujamra, Bárbara Bruno, Abelardo Figueiredo, Jorge Fernando, Jorge Takla, Zé Renato, Vitor Garcia Peralta, Marcelo Lazzarato, Alexandre Heineck, Roberto Lage.

 

Foto: Rodrigo Veneziano

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