Espetáculo leva carnaval para calçada do Theatro Municipal com inspirações em Anita Malfatti

Partindo da vida e da obra de Anita Malfatti, considerada precursora e mártir do movimento modernista, o grupo pontua os principais acontecimentos da polêmica manifestação cultural, que abriu as portas para o modernismo no Brasil. Surdo, tamborim, caxixi, teclado, flauta transversal, violão e reco-reco são utilizados na trilha sonora original que evidenciam o tom carnavalesco da peça…

 

 

 

 

 

A Semana de Arte Moderna de 1922 foi um dos marcos na cultura brasileira e a pintora Anita Malfatti é um dos maiores expoentes do movimento. Com inspirações nessa efervescência e com músicas ao vivo que marcam o tom de desfile carnavalesco, a Companhia Zero8 está com a peça Dançamos Juntos no Carnaval das Gentes na calçada do Theatro Municipal. A direção é de Paula Klein e a dramaturgia é de Elenice Zerneri e Lucas D’Alessandro. A temporada é sempre aos sábados e domingos, às 15h, até 29 de maio.

Partindo da vida e da obra de Anita Malfatti, considerada precursora e mártir do movimento modernista, o grupo pontua os principais acontecimentos da polêmica manifestação cultural, que abriu as portas para o modernismo no Brasil. Sempre transitando entre a crítica e a celebração, o espetáculo transforma em música importantes obras da literatura modernista e se utiliza de uma estética carnavalesca para abordar o assunto de maneira bem-humorada. O elenco é formado por Bárbara Sgarbi, Elenice Zerneri, Larissa Janotti, Laura La Padula e Lucas D’Alessandro

Para a criação do espetáculo, o grupo teve uma intensa investigação de questões teóricas relacionadas ao tema. A cia passou pelos manifestos e pela poesia de Oswald e Mário de Andrade, pelos livros “1922: A semana que não terminou”, do jornalista Marcos Augusto Gonçalves, e “22 por 22: A Semana de Arte Moderna Vista pelos Seus Contemporâneos”, organizado por Maria Eugênia Boaventura. O livro da pesquisadora Marta Rossetti Batista, “Anita Malfatti no tempo e no espaço” foi uma grande inspiração para a criação da dramaturgia, responsável por acender o desejo de devolver à artista um protagonismo hoje esquecido.

“O fato de usarmos como palco a calçada do Municipal nos obriga a perceber os contrastes do cenário da cidade, retroalimenta a nossa criação e contribui para acentuar imageticamente algumas das questões trazidas pelo espetáculo. O local é onde um grupo de pessoas pensava o Brasil 100 anos atrás. O país é outro, a cidade é outra. Em cena, nos perguntamos se as questões sociais e artísticas também são outras ou se permanecem as mesmas. É como um convite para entrar em uma máquina do tempo, mas com um pé só”, ressalta Elenice Zerneri.

A trilha sonora original desempenha um importante papel na dramaturgia. As músicas do espetáculo envolvem o público pelo seu caráter sedutor e catártico, mas sem perder sua capacidade de propor profundas reflexões acerca do tema em questão. Surdo, tamborim, caxixi, teclado, flauta transversal, violão e reco-reco adicionam ao visual carnavalesco proposto uma camada sonora ligada ao samba. Poemas, manifestos e até mesmo textos teóricos são antropofagizados pelos atores que transformam, numa trilha sonora inédita, a literatura modernista em música. A direção musical é de Lucas D’Alessandro.

Um carro abre-alas é de onde brota cenário e figurino com a estética carnavalesca utilizada em cena para contar a história. “Há uma tentativa de estabelecer um paralelo entre os dias atuais (o reencontro com as ruas após o distanciamento social) e o carnaval de 1914, após a epidemia de gripe espanhola, que foi “de um erotismo absurdo”, segundo Nelson Rodrigues (crônica publicada no GLOBO em 1971). Há também uma relação com a última fase da pintura de Anita Malfatti, após a morte das duas pessoas que representavam para ela os polos entre os quais se debateu artisticamente (o modernismo de Mário de Andrade e o academicismo de sua mãe, a pintora Betty Krug). Nessa última fase, há uma libertação no sentido de retratar, “a seu modo”, o interior do país, as festas populares e o carnaval”, enfatiza a dramaturga.

Para a Companhia Zero8, A Semana de 22 merece atenção por reunir, de certa maneira, pela primeira vez, um grupo de artistas de várias linguagens, dispostos a pensar o Brasil. “No livro de Marcos Augusto Gonçalves há uma metáfora pertinente: o tremor de terra que se deu às vésperas da semana de 22. No Brasil, os tremores acontecem por uma acomodação de atritos dentro de uma mesma placa tectônica. Assim foi a semana — uma acomodação de concepções artísticas no limite de uma mesma classe. Mas o que aconteceu ali foi importante para jogar luz à riqueza das manifestações artísticas populares e tem relação direta com eventos posteriores, fundamentais para colocar o Brasil no mapa: a bossa nova, o tropicalismo, o cinema novo, o teatro de Zé Celso e o boom da dramaturgia brasileira nas décadas de 50 e 60”.

Ficha Técnica
Direção: Paula Klein Flecha Dourada
Dramaturgia: Elenice Zerneri e Lucas D’Alessandro
Direção musical: Lucas D’Alessandro
Produção: Cia. Zero8 de Teatro
Elenco: Bárbara Sgarbi, Elenice Zerneri, Larissa Janotti, Laura La Padula e Lucas D’Alessandro
Assessoria de Imprensa: Renato Fernandes.

 

 

 

 

 

Dançamos Juntos no Carnaval das Gentes
Calçada do Theatro Municipal
Praça Ramos de Azevedo, s/n
Até 29 de maio
Sábados e domingos, às 15h.
Grátis
Sobre a Companhia Zero8 de Teatro
A Cia. Zero8 de Teatro é formada por ex-alunos de uma mesma turma da Escola Superior de Artes Célia Helena. Em 2017 estreiam o espetáculo Cavalos, processo colaborativo com direção e dramaturgia de Lucienne Guedes a partir da obra “Eles Eram Muitos Cavalos de Luiz Ruffato com temporada no Centro Cultural São Paulo – CCSP. A performance Saia Do Armário participa anualmente da Parada do Orgulho LGBTQIA+ de São Paulo. Em 2018, a companhia estreou seu premiado espetáculo infantil Contos De Tirar O Sono que roda por escolas, parques e festivais por todo o Brasil. Durante o período de isolamento social, a companhia dedicou-se a experimentos audiovisuais como Brevidades, Z8 Agora e Entre Janelas. Com textos e trilha sonora autoral, a companhia busca, em seu trabalho, explorar diversas linguagens teatrais, sempre partindo do diálogo entre o teatro e a cidade.

 

Foto: Divulgação

 

 

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