Após apresentações na MITsp História do Olho – um conto de fadas pornô-noir estreia no Tusp

Híbrido entre ficção e não ficção a montagem, inspirada na novela História do Olho, de Georges Bataille, mescla 12 performers amadores e profissionais e aprofunda a investigação da relação e fronteiras entre teatro e pornografia. Em paralelo a temporada serão realizadas mesas de bate-papo e exibições da palestra performance virtual Camming 101 Noites…

 

 

 

Um dos destaques da programação da MITsp – Mostra Internacional de Teatro de São Paulo, o espetáculo História Do Olho – Um Conto de Fadas Pornô-Noir, de Janaina Leite, que assina a direção e dramaturgia, além de estar em cena, estreia dia 8 de julho, sexta-feira, às 19h, no Tusp – Teatro da Universidade de São Paulo (pré-estreia para convidados dia 7 de julho, quinta-feira, às 19h). Livremente inspirada na novela História do Olho, de Georges Bataille, a montagem aprofunda a investigação da relação e fronteiras entre teatro e pornografia, reivindicando a pornografia como uma arte cênica.

Contemplado pela 13ª Edição do Prêmio Zé Renato de Teatro para a cidade de São Paulo da Secretaria Municipal de Cultura, História Do Olho – Um Conto de Fadas Pornô-Noir é híbrido entre ficção e não ficção e traz à cena 12 performers amadores e profissionais – André Medeiros Martins (ele/dele), Anita Saltiel (ela/dela), Armr’Ore Erormray (elu/delu), Carô Calsone (ela/dela), Cusko (ela/dela), Dadu Figlioulo (ele/dele), Georgia Vitrilis (ela/dela), Isabel Soares (ela/dela), Lucas Scudellari (ele/dele), Ultra Martini (ele/dele), Vinithekid (ele/dele) e Tadzio Veiga (ele/dele) – entre eles trabalhadores amadores e profissionais do sexo.

Com a colaboração de Lara Duarte, parceira de criação em Stabat Mater e Camming 101 Noites, e do multiartista André Medeiros Martins, que realiza trabalhos sobre arte e pornografia em diferentes plataformas, História Do Olho – Um Conto de Fadas Pornô-Noir segue a estrutura do livro para contar, em cenários de contos de fadas, o início da vida sexual do jovem narrador a partir do encontro com as adolescentes Simone e Marcela. A partir daí, o trio passa a experimentar a sexualidade de forma bárbara e desenfreada.

No entreato, o público assiste a um show com música ao vivo e performances pornográficas. Entre a teatralidade ostensiva e o explícito da pornografia, o espetáculo recria essa fábula noir entre o vulgar e o sublime, o mundano e o cósmico, o ordinário e o abissal. Ao fim, Janaina assume a cena como diretora-performer para contar em primeira pessoa o surpreendente capítulo Reminiscências, em que Bataille conta as origens biográficas que suscitaram a escrita do livro, fazendo do autor seu próprio alter ego pornográfico.

“Move essa proposta, ao trazer a pornografia como central, o desejo de revolver, de maneira lúdica, marcas profundas de como nos relacionamos com a sexualidade, com os arquétipos de masculino e feminino, com os arranjos que estruturam a sexualidade”, conta Janaina Leite.

 

Metáforas do redondo
No livro de Bataille, o olho, o ânus, o ovo, mas também o sol, a lua, a via láctea, são correlatos entre si fazendo a junção inaudita entre o cósmico e o mais absolutamente concreto e material. Para Janaina Leite, as metáforas do redondo chegam ao extremo na famosa cena da tourada descrita no capítulo Olho de Granero em que o autor conta a história real de um toureiro que morre em uma arena de Madrid em 1928 ao ter seu olho perfurado por um chifre do touro. “Cria-se na narrativa uma espécie de eclipse em que a sobreposição do sol e a imagem de um olho vazado nos mergulham no que Bataille chama de ‘noite infinita’ opondo ao imperativo do olho que vê (e a pornografia estaria aqui situada) ao obs-ceno, no sentido do irrepresentável, do desconhecido”, explica ela.

Pensado para um formato não convencional, o espetáculo transita de uma relação frontal a formatos interativos e circulares em que o público é deslocado, convidado a se aproximar da cena. No início, acomodado em cadeiras, em posição “à italiana”, o público é convidado a se levantar e transitar pelo espaço. A desconfiguração de uma organização teatral clássica é fundamental para a criação das situações de “arena” que servirão tanto para o show e as performances pornográficas quanto para o segundo ato da peça na qual a temática do “redondo” se tornará cada vez mais central.

Janaina Leite é referência na pesquisa sobre o uso do documentário e da autobiografia no teatro brasileiro, tanto na perspectiva prática, a partir de seus espetáculos Festa de separação: um documentário cênico, Conversas meu pai, Stabat Mater (melhor espetáculo do ano em 2019 em importantes veículos da imprensa brasileira e ganhador do prêmio Shell de melhor dramaturgia), quanto na perspectiva teórica através de seu mestrado, doutorado e na publicação do livro Autoescrituras performativas: do diário à cena (Editora Perspectiva).

A dimensão biográfica de História Do Olho – Um Conto de Fadas Pornô-Noir, diferentemente dos outros trabalhos de Janaina Leite, está a serviço da fabulação. Ou ainda, busca na livre fabulação, o caminho para o que Bataille chamava de “dissolução” do sujeito. “Em tempos em que a expressão do eu se torna território de pura afirmatividade e autocomplacência, a montagem convida a metamorfoses de toda ordem e à despossessão no vasto deslimite entre a morte e o erotismo”, destaca a artista.

 

Ações reflexivas
Em paralelo as apresentações do espetáculo acontecem uma série de ações reflexivas, como mesas de bate-papo (dias 9 e 23 de julho e 6 de agosto, sábados, às 15h, no Tusp); exibição de trechos e bate-papo sobre o processo de criação do documentário Camming 101 Noites (dia 7 de agosto, domingo, às 15h, no Tusp) além de exibições gratuitas da palestra performance virtual Camming 101 Noites (dias 9,16, 23 e 30 de julho e 6 de agosto, de sábado meia-noite a domingo meia-noite – disponível por 24h).

Nas três mesas que debatem temáticas como teatro, escopofilia, trabalho sexual, pornografia, e questões estéticas e políticas que podem tangenciar esses temas como censura, sexualidade e gênero, perguntas como: “qual a sua relação com a pornografia?”, “o que a pornografia ensina sobre a virtualidade?”, “o que a pornografia tem a ver com as artes cênicas?”, “o que as artes cênicas emprestam à pornografia? atravessam os debates. Nomes ligados a reflexão teórica e literatura, aos pensamentos da pós-pornografia e teoria queer e ainda trabalhadoras sexuais e ativistas, historiadoras, diretoras de conteúdo adulto, comporão mesas híbridas entre a teoria e a prática sobre a expressão do obsceno nas artes e na vida em diálogo com os criadores do espetáculo.

Uma das ações que integrou a fase de pesquisa de História Do Olho – Um Conto de Fadas Pornô-Noir foi denominada de Ensaios Escopofílicos para uma História do Olho e resultou na criação da palestra performance virtual Camming 101 Noites, a partir de experiências imersivas em plataformas de sexo virtual pago. As “101 noites” do título faz referência ao livro de contos persa As mil e uma noites, em que Sherazade precisa entreter seu esposo e rei lhe contando histórias, noite após noite, para não ser morta.

Essa palestra performance online, criada por Janaina Leite em colaboração com Lara Duarte, Lillah Halla e Mateus Capelo, parte por um lado, do trabalho das camgirls profissionais, que precisam manter a atenção dos clientes visto que ganham por minuto e, portanto, parte de seu trabalho não é sexual, mas sim erótico, imaginário, dramatúrgico e terapêutico, de forma a captar a atenção do espectador/cliente pelo máximo de tempo possível. Por outro lado, o título do livro se tornou o dispositivo que inspirou o tempo exato em que Janaina se dedicou a essa experiência durante o auge do isolamento social devido à pandemia. 101 noites de isolamento, 101 noites de interação erótica sem riscos de “contágio”.

A performance realizada durante 101 noites por Janaina Leite também é a base para um filme documental que será criado em parceria com a cineasta Lillah Halla que participa do bate papo com Janaina, os integrantes do projeto e o público.

 

Sobre Janaina Leite
Atriz, diretora e dramaturgista. É uma das fundadoras do Grupo XIX de Teatro de São Paulo, com quem criou diversos espetáculos premiados que circularam por todo o país e no exterior. Em paralelo à trajetória com o Grupo, concebeu os espetáculos Festa de Separação: um documentário cênico, Conversas com meu Pai, Stabat Mater, a performance online Camming 101 Noites e lançou o livro Autoescrituras performativas: do diário à cena (Editora Perspectiva), consolidando sua pesquisa sobre autobiografia e documentário no teatro. Lançou também pela editora Javali a publicação com a dramaturgia de seus dois últimos espetáculos Conversas com meu Pai (texto de Alexandre Dal Farra) e Stabat Mater. Idealizou e orientou diversos grupos de pesquisa, dentre eles Feminino Abjeto 1 e Feminino abjeto 2 – O vórtice do masculino, fundamentais laboratórios para a criação de Stabat Mater. Janaina também atua na orientação de oficinas, cursos, palestras e curadoria por todo o Brasil, além da orientação de projetos por meio dos “Laboratórios Autorais” que desenvolve desde 2012.

Na França, em Paris, esteve no Conservatoire National Supérieur d’Art Dramatique (CNSAD), apresentando a palestra do real etnográfico ao real obsceno para os alunos da disciplina de Direção e na Université Sorbonne Nouvelle – Paris 3 apresentou sua pesquisa Laboratórios cênicos sobre o feminino e a abjeção para alunos da disciplina Dramaturgia e Ateliê do Espectador. Na cidade de Caen orientou uma residência artística na Comédie National de Caen trabalhando com projetos autorais de 12 artistas franceses. Em Portugal, conduziu a oficina Autobiografia, gênero e performance no espaço de criação transdisciplinar Circolando e conduziu a palestra Do real documental ao real obsceno para a turma de Pós-graduação em Dramaturgia e Argumento da Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo ESMAE, no Porto e na Escola Superior de Teatro e Cinema, em Lisboa. No Chile, apresentou uma Masterclass sobre sua trajetória no Festival Santiago A Mil e em Bruxelas (Bélgica) apresentou uma palestra performativa sobre o projeto História do Olho no Festival Proximamente.

Janaina Leite foi a pesquisadora em foco da MITsp 2020, tendo Stabat Mater na programação da plataforma MITbr, a apresentação de uma “desconstrução do espetáculo” onde compartilhou procedimentos e conteúdo da criação, além de ser tema em diversas conversas na programação da Mostra. Atualmente integra o programa de dramaturgos latino-americanos que compõe o projeto Bombom Gesell com sede em Buenos Aires (Argentina) e é uma das artistas brasileiras comissionada pela MITsp & Edinburgh International Festival para a criação de um trabalho inédito online para a edição 2023 do The Edinburgh Festival.

Ficha Técnica
Idealização, Direção, Dramaturgia e Performance – Janaina Leite. Dramaturgismo e Assistência de Direção – Lara Duarte e André Medeiros Martins. Performers Criadores e Depoimentos – André Medeiros Martins, Anita Saltiel, Armr’Ore Erormray, Carô Calsone, Cusko, Dadu Figlioulo, Georgia Vitrilis, Isabel Soares, Lucas Scudellari, Ultra Martini, Vinithekid e Tadzio Veiga. Composições Originais e Performance – André Medeiros Martins, Ultra Martini e Vinithekid. Luz – Wagner Antônio. Figurino – Melina Schleder. Preparação Corporal – Lara Duarte. Arranjos e Desenho de Som – Renato Navarro. Produção Musical – Mateus Capelo. Suspensão – Pombo Morcego, Blue Mermaid e performers convidades. Concepção de Manequins Articulados e Coreografia – Tadzio Veiga. Pesquisa Tourada – Carô Calsone e Isabel Soares. Cenotécnicos – Edson Luna e Wanderley Wagner da Silva. Direção de Produção – Carla Estefan. Assistentes de Produção – Samuel Rodrigues e Letícia Karen. Coordenação de Palco – Cusko. Operação de Som ao Vivo – Vinithekid. Técnico de Som – Renato Navarro. Operação de Luz – Felipe Tchaça e Aline Sayuri. Colaboradores – Eliane Robert Moraes, Christine Greiner, Biaggio Pecorelli, Bruna Kury, Ediyporn, Beto Propheta, Artur Kon e Rodolfo Valente. Assessoria de Imprensa – Nossa Senhora da Pauta. Fotos – Cacá Bernardes. Design Gráfico – Sato do Brasil. Ilustração da Arte – Flopes. Foto para Ilustração – Dadu Figlioulo. Mídias Sociais – André Medeiros Martins. Gestão de Projeto, Produção e Difusão – Metro Gestão Cultural. Apoio – Teatro Mars e Centro Cultural da Diversidade. Coprodução – MITsp-Mostra Internacional de Teatro de São Paulo. Realização – Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, 13° Prêmio Zé Renato de Teatro, TUSP, e Metro Gestão Cultural.

 

 

 

 

 

 

História Do Olho – Um Conto de Fadas Pornô-Noir
De Janaina Leite
Tusp – Teatro da Universidade de São Paulo
Rua Maria Antônia, 294 – Consolação (metrô Higienópolis-Mackenzie)
Telefone – (11) 3123-5223
Capacidade – 70 lugares
De 8 de julho a 7 de agosto
Quinta-feira a sábado às 19h e domingo às 18h.
Duração – 180 minutos (com intervalo)
Classificação etária – 18 anos
Ingressos – R$ 30,00 e R$ 15,00
A venda pelo site sympla.com.br

 

Mesas de Bate-Papo
Dias 9 e 23 de julho e 6 de agosto
Sábados, às 15h
Tusp – Teatro da Universidade de São Paulo
Rua Maria Antônia, 294 – Consolação (metrô Higienópolis-Mackenzie)
Capacidade – 70 lugares
Duração – 90 minutos
Classificação etária – 18 anos
Gratuito – retirada de ingressos no próprio dia, na bilheteria do teatro a partir de 14h.

 

Exibição de Trechos e Bate-Papo sobre o processo de criação do Documentário Camming 101 Noites
Com Lillah Halla e Janaina Leite
Tusp – Teatro da Universidade de São Paulo
Rua Maria Antônia, 294 – Consolação (metrô Higienópolis-Mackenzie)
Dia 7 de agosto, domingo, às 15h.
Capacidade – 70 lugares
Duração – 90 minutos
Classificação etária – 18 anos
Gratuito – retirada de ingressos no próprio dia, na bilheteria do teatro a partir de 14h.

 

Camming 101 Noites
Dias 9,16, 23 e 30 de julho e 6 de agosto, de sábado meia-noite a domingo meia-noite (disponível por 24h), no canal do YouTube da Metro Gestão Cultural.
Capacidade – 70 lugares
Duração – 90 minutos
Classificação etária – 18 anos
Gratuito

Ficha Técnica
Concepção e Performance – Janaina Leite. Participação Especial – Anita Saltiel. Dramaturgismo – Lara Duarte e Lillah Halla. Edição de Vídeo – Mateus Capelo. Edição da Gravação – André Cherri. Direção de Produção – Carla Estefan. Assessoria de Imprensa – Nossa Senhora da Pauta.

 

Foto de cena História do Olho – Um Conto de Fadas Pornô Noir: Rafa Steinhauser

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