Imigração e Refúgio pontuam espetáculos da Companhia Nova de Teatro no Centro Cultural Olido

Com direção de Carina Casuscelli as remontagens de Barulho D’Água e Caminos Invisibles…La Partida dão continuidade as comemorações de 20 anos do grupo…

 

 

 

Na esteira das comemorações de 20 anos nos palcos, a Companhia Nova de Teatro apresenta os espetáculos Barulho D’água e Caminos Invisibles…La Partida, de 21 de outubro a 27 de novembro no Centro Cultural Olido. As montagens com sessões gratuitas integram o projeto Trilogia da Imigração, que prevê ainda a obra inédita Entrelaçados, com estreia prevista para 2023

Barulho D’água – de 21 de outubro a 6 de novembro, sexta às 20h e sábado e domingo às 18h – traz no elenco os atores Alexandre Rodrigues, Fábio Mráz, Carina Casuscelli e o ator angolano Miguel Kalarary. A peça conta ainda com trilha do músico experimental Wilson Sukorski, provocações de Lenerson Polonini e vídeo projeções de Alexandre Ferraz. Já Caminos Invisibles…La Partida – de 11 a 27 de novembro, sexta-feira às 20h e sábado e domingo às 18h – conta com 14 bolivianos, entre atores, não-atores e músicos, residentes na cidade de São Paulo.

Trilogia da Imigração integra o projeto Companhia Nova de Teatro + 20 Anos contemplado pela 38ª edição do Programa de Fomento ao Teatro para Cidade São Paulo da Secretaria Municipal de Cultura que prevê a realização de peças de repertório, trabalhos formativos como oficinas e palestras, uma nova montagem com estreia em 2023 e uma publicação contando a trajetória do grupo ao longo de 20 anos.

 

Imigração e refúgio
Na trajetória da Companhia Nova de Teatro, a proposta de criação dramatúrgica com foco na imigração, teve início em 2011 com Caminos Invisibles…La Partida, que destaca os povos andinos. Durante a pesquisa para a encenação, que incluiu uma viagem a Bolívia, o grupo acompanhou diversas comunidades campesinas e sítios históricos. Já para a montagem foram convidados grupos de música tradicional andina e diversos nativos dessas regiões, não atores, para integrarem o elenco.

A aproximação, convivência e compartilhamento de saberes com essas pessoas das diversas comunidades de origem andina foi extremamente rica para a construção dramatúrgica e para o resultado final do trabalho, que resultou no Prêmio Tereza Pomodoro, levando o grupo a encenar o espetáculo em Milão, Itália, em 2012. “Foi um marco apresentar e contar esta história na cidade de Milão, a capital europeia da moda. Naquele momento víamos na cidade uma forte concentração de mão de obra sul-americana, muitos, invisíveis aos olhos da sociedade”, comenta Carina, dramaturga e diretora do espetáculo.

Em 2009, o renomado dramaturgo italiano, Marco Martinelli, movido por uma das piores tragédias humanas sofridas em seu país, decide transformar em dramaturgia a perda de centenas de vidas no Mar Mediterrâneo. Barulho D’água narra a travessia de imigrantes, em sua maioria refugiados de zonas de conflitos, atravessando o mar mediterrâneo em embarcações precárias rumo aos países europeus.

O contato com o autor italiano se deu em 2014 na cidade de Nova Iorque, onde a Companhia Nova de Teatro pesquisava o espetáculo 2xForeman: peças Bad Boy Nietzsche e Prostitutas Fora de Moda, de Richard Foreman. Na ocasião, Marco Martinelli apresentava a versão italiana de Barulho D’água no Teatro La MaMa. “Nas conversas sobre as pesquisas dos grupos, enxergamos a possibilidade de um intercâmbio, e, com isso, firmamos um acordo de cooperação para investigar dramaturgicamente o tema imigração, com base em experiências desenvolvidas nos dois países”, explica Lenerson Polonini, diretor artístico do grupo.

 

Os espetáculos

Barulho D’água, que chegou aos palcos em 2016, é fruto de pesquisas do grupo sobre os fluxos migratórios, e narra os dramas de milhares de refugiados que fogem de guerras, da fome e de conflitos, e, em sua maioria, morrem buscando sobrevivência; neste caso, atravessando o mar Mediterrâneo. Na peça, tanto os sobreviventes como os mortos são identificados por números e, na maioria das vezes, ficam impossibilitados de serem identificados pelas famílias e pelas autoridades locais.

Na versão original, Barulho D’água, apresenta-se como monólogo. O ator, que interpreta um general é acompanhado por dois músicos e relata o seu cotidiano na ilha. Os outros personagens são relatados em primeira pessoa pelo general. Na versão da companhia, a diretora Carina Casuscelli achou importante as vozes dos refugiados na presença física desses personagens. Dessa forma, à figura do general, juntaram-se dois atores representando as diversas etnias negras, sendo um deles angolano, e uma atriz, de etnia branca, que parece narrar as cenas por meio de seus cânticos, ora de esperança e alegria, ora de lamento e dor.

“Barulho D’água apresenta uma forte crítica àqueles que entendem a imigração como uma mercadoria e, mesmo após dez anos da criação, o texto dramatúrgico ainda é extremamente atual”, explica Carina Casuscelli.

 

Caminos Invisibles…La Partida estreou durante a comemoração dos 10 anos de existência da Companhia Nova de Teatro, em 2011. Escrito e dirigido por Carina Casuscelli, o espetáculo apresenta uma visão contemporânea e emergente sobre os processos migratórios. A peça mescla música tradicional andina, canto, ritos, textos em quéchua e aymará, teatro documental e vídeos. O encontro dessas raízes, ancestralidades e identidades se confrontam com o cotidiano da metrópole.

Na versão de 2022, a dramaturgia foi repensada lançando olhares sobre a atualidade.

 

 

 

 

 

Centro Cultural Olido
Sala Paissandu
Av. São João, 473 – Centro
Capacidade – 139 lugares
Informações – (11) 3331-7703. Instagram – @centroculturalolido
Grátis – Ingressos distribuídos uma hora antes de cada apresentação
Classificação etária: 16 anos
Acesso para deficientes físicos

Barulho D’água
De 21 de outubro a 6 de novembro, sexta-feira às 20h e sábado e domingo às 18h
Dia 30 de outubro não haverá apresentação.
Sessão extra dia 3 de novembro, quinta-feira, às 20h
Duração: 60 minutos

O espetáculo narra a história do drama de milhares de refugiados, que, em sua maioria, morrem atravessando o mar Mediterrâneo. A peça é uma forte crítica àqueles que entendem a imigração como uma mercadoria.
Ficha Técnica
Texto – Marco Martinelli. Direção e tradução – Carina Casuscelli. Provocações e Iluminação – Lenerson Polonini. Atores ­– Alexandre Rodrigues, Fábio Mráz, Miguel Kalarary e Carina Casuscelli. Vozes – Rosa Freitas. Figurinos – Carina Casuscelli. Trilha sonora- Wilson Sukorski. Vídeos – Alexandre Ferraz. Operação de som – Felipe Moraes. Operação de luz – Verônica Castro. Operação de imagem- Téo Ponciano. Concepção Espacial e Produção – Carina Casuscelli e Lenerson Polonini (Companhia Nova de Teatro). Fotos – Antônio Simas Barbosa e Henrique Oda.

 

 

 

Caminos Invisibles…La Partida
De 11 a 27 de novembro, sexta-feira às 20h e sábado e domingo às 18h.
Duração: 65 minutos

Composto por atores brasileiros e bolivianos, o espetáculo narra a trajetória de imigrantes sul-americanos, com destaque para os povos andinos, que deixam seus países em busca de melhores condições de vida e chegam à grande metrópole paulistana. Este cenário se funde com as situações de ilegalidades na luta pela sobrevivência. O mercado da moda, que mobiliza a problemática social, ironicamente, satiriza o mercado de massa, enquanto é abastecido pela mão de obra escrava do imigrante.
Ficha Técnica
Direção e dramaturgia – Carina Casuscelli. Provocações e iluminação – Lenerson Polonini. Elenco – Carina Casuscelli, Cléo Moraes, Caca Santini, Giuliano Pallos e Juan Cusicanki. Núcleo andino – Richard Rivera, Freddy Wara, Oscar Condori, Beatriz Morales, Brendol Morales, Brayan Jorge, Janete Aline, Daniel Mamani, Victor Koll e Cesar Chui. Participação especial – Conjunto Autoctono “Jach’a Sicuris de Italaque”. Figurinos – Carina Casuscelli. Trilha sonora – Wilson Sukorski. Vídeos – Cristian Cancino e Giuliano Conti. Operação de som – Felipe Moraes. Operação de luz – Verônica Castro. Operação de imagem – Téo Ponciano. Concepção Espacial e Produção – Carina Casuscelli e Lenerson Polonini (Companhia Nova de Teatro). Fotos – Henrique Oda, Acauã Fonseca e Cristian Cancino.

 

Sobre a Companhia Nova de Teatro
Fundada em 2001, pelo diretor Lenerson Polonini em parceria com a atriz, dramaturga e figurinista Carina Casuscelli, a companhia desenvolve um trabalho de pesquisa contínua a partir da performance, das artes do corpo e do universo das artes visuais. A Companhia Nova de Teatro é uma companhia aberta e a cada novo projeto convida atores, bailarinos e artistas de diversas áreas para colaborarem com suas produções. O teatro multimídia desenvolvido pela companhia procura explorar a tridimensionalidade do palco e a relação da arte com o espaço urbano.

Em 2012, a companhia conquista o primeiro lugar do Prêmio Internazionale Teatro Dell’ Inclusione Teresa Pomodoro, em Milão/Itália, com o espetáculo Caminos Invisibles…La Partida. O júri desse prêmio contou com nomes importantes da cena mundial, como Eugenio Barba, Luca Ranconi, Lev Dodin e Jonathan Mills. No ano seguinte, contemplado pelo Edital de Intercâmbio do Ministério da Cultura, os integrantes do grupo realizam residência artística no Attis Theatre, em Atenas/Grécia, estreando no teatro grego a peça Krísis, com supervisão de Theodoros Terzopoulos, diretor da companhia grega. Em junho de 2015 é convidada a exibir figurinos do espetáculo Doutor Faustus Liga a Luz, de Gertrude Stein, no lendário The Bakhrushin State Central Theatre Museum, em Moscou/Rússia, onde também realiza uma performance com fragmentos da peça na abertura do evento Costume at the Turn of the Century 1990 – 2015. No mesmo ano encena o espetáculo 2xForeman: peças Bad Boy Nietzsche e Prostitutas Fora de Moda, de Richard Foreman, com direção de Lenerson Polonini. Já em 2016 estreia a peça Barulho D’água, do italiano Marco Martinelli, com direção de Carina Casuscelli. A última parte do projeto TRILOGIA FOREMAN, com a peça Os Deuses Estão Marretando a Minha Cabeça, cumpre temporada em 2017 no Sesc Pinheiros. Em 2019, o grupo participa do Analogio Festival de Atenas, com o work in progress Kassandra-Hecuba (APÁTRIDAS: parte 1), que, na sequência, é apresentado nas cidades de Sibiu, durante o Festival 25 Ore Teatrul Non Stop, e no Teatrul de Artã, de Bucareste, na Romênia. No início de 2020, a peça é apresentada no mesmo formato no Centro Cultural Olido, como parte do FarOFFa, mostra paralela à MIT SP.

Em 2020, durante o confinamento pela Covid-19, a companhia realiza a série Diálogos, com objetivo de pensar sobre a criação artística e a sociedade em tempos de pandemia, convidando o público a refletir e elaborar caminhos e estratégias em meio à crise global, com sérios impactos na arte, na cultura, na economia e na política. A série foi realizada via redes sociais e contou com a presença de artistas, gestores, críticos, jornalistas, curadores, pensadores, pesquisadores e líderes de relevada importância no cenário das artes, da cultura, da economia, da política e da filosofia. Em 2021, o grupo realiza temporadas online de A Cripta de Poe, em versão site specific, gravado e transmitido no canal da Vila Itororó e das peças do projeto Trilogia Foreman. No mesmo ano o grupo estreia o espetáculo Apátridas, contemplado pelo PROAC LAB, com direção de Lenerson Polonini e dramaturgia de Carina Casuscelli, cumprindo temporada no Teatro Arthur Azevedo. Em 2022, o grupo apresenta o espetáculo em Milão, Itália, como parte do Prêmio Internacional Teresa Pomodoro, que contou com júri renomado como Peter Stein, Tadashi Suzuki, Lev e Dodin, entre outros.

Site – cianovadeteatro.com | Instagram e Facebook – @cianovadeteatro.

 

Foto de Caminos Invisibles…La Partida – ator Juan Cusicanki: Cristian Cancino

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