Espetáculo Silva, do coletivo Os Incendiários, busca um futuro revolucionário a partir da construção de uma subjetividade preta

Com codireção de Nilcéia Vicente e Georgette Fadel, trabalho é livremente inspirado no cruzamento entre o filme Faça a coisa certa, de Spike Lee, e a peça Biedermann e os incendiários, de Max Frisch…

 

 

 

 

 

 

“O que falta para a combustão das nossas dores pretas?” É esse o questionamento que norteia o espetáculo Silva, do coletivo Os Incendiários. O trabalho é livremente inspirado na intersecção entre o filme Faça a coisa certa (1989), de Spike Lee, e a peça Biedermann e os incendiários (1953), de Max Frisch, e tem a dramaturgia assinada por Lucas Moura, criador de Desfazenda – Me enterrem fora desse lugar.

A peça fará temporada no Teatro de Contêiner Mungunzá, de 14 de novembro a 21 de dezembro, de segunda a quarta, às 20h. Os ingressos custam R$20 (inteira) e R$10 (meia-entrada) e serão vendidos via plataforma Sympla e bilheteria.

Na trama, Silva é um homem negro, funcionário fiel de Biedermann, uma estátua cravada no meio da história do Brasil há 400 anos. Exausto, o protagonista da trama passa a se questionar sobre a imobilidade das coisas, incluindo a dele mesmo, em uma cidade que arde diante dos seus olhos.

Nesse cenário, surgem três elementos, H1 (hidrogênio), C6 (carbono) e O8 (oxigênio). Responsáveis por gerar fogo, estão em busca de uma quarta força, para garantir uma combustão total.

Assim, entre brincadeiras, jogos, provocações e reflexões, Silva é revirado por esse trio e se vê diante de um dilema: dessa vez, é fogo ou fuga? Será que vale a pena mudar as regras da situação?

 

Em busca de um futuro revolucionário
“Queríamos fazer uma peça que apontasse um novo horizonte possível de revolução. Como poderíamos construir uma ideia coletiva e potente que nos leve a uma possibilidade de mudança radical?”, conta o ator Filipe Celestino.

Com isso em mente, o processo para a construção do espetáculo Silva começou com a peça Biedermann e os incendiários (1953), de Max Frisch. O trabalho ganhou uma montagem em 2002, com a Cia. São Jorge de Variedades e direção de Georgette Fadel, e tinha como argumento a classe proletária invadindo a casa da burguesia. Inclusive, a produção foca nos dilemas dos ricos.

Quase duas décadas depois, quando Lilian Regina (da peça Um Inimigo do Povo, dirigida por José Fernando Peixoto de Azevedo) e Roma Oliveira (do musical Tatuagem, com direção de Kleber Montanheiro) entram em contato com essa dramaturgia, eles se questionam sobre quem seriam os proletários no Brasil de hoje.

“Com mais de 50% da população brasileira sendo negra, entendemos que essa história só poderia ser contada por uma perspectiva preta e com protagonismo preto. Não existiria outra forma”, conta Roma Oliveira.

A dupla se juntou a Filipe Celestino (ator fundador do coletivo O Bonde) e Vaneza Francisca (da série 3%, criada por Pedro Aguilera) e formou o coletivo Os Incendiários.

Neste seu primeiro trabalho, o grupo se debruçou sobre o texto de Frisch, expandindo as discussões suscitadas por ele. Foi exatamente nessa fase de pesquisa que a América Latina foi tomada por queimadas de estátuas que eram grandes símbolos de opressão, como o Borba Gato, aqui no Brasil. E isso foi incorporado à dramaturgia de Silva.

“Na peça, os três elementos querem queimar a estátua do Biedermann e percebem que o Silva é exatamente o que faltava para gerar a combustão. Então, ao longo de todo o espetáculo, eles tentam acendê-lo, ou seja, fazê-lo tomar consciência da própria história. No fim, o plano funciona, gerando um movimento poderoso de queima de estátuas de vários colonizadores”, comenta Celestino.

 

Uma ação conjunta e poderosa
Para o grupo, é importante que todas as pessoas se empoderem a exemplo do protagonista. “O filme Faça a coisa certa, de Spike Lee, começa com um radialista falando ‘Acorda! Acorda! Acorda!’ e entendemos isso como uma metáfora dessa ação conjunta, tão necessária para acabar com a opressão”, defende Roma.

Como uma maneira de dar potência à narrativa, adicionando novas camadas, Os Incendiários convidaram Georgette Fadel para codirigir o trabalho em parceria com Nilcéia Vicente. O cenário é assinado por Julio Dojcsar, que também participou da montagem de Biedermann e os incendiários, de 2002.

Ficha Técnica
Coletivo: Os Incendiários
Elenco: Filipe Celestino, Lilian Regina, Romário Oliveira e Vaneza Oliveira
Direção: Nilcéia Vicente e Georgette Fadel
Dramaturgia: Lucas Moura
Direção Musical: Melvin Santana
Criação e produção musical: Melvin Santana e Lucas Melifona
Músicos: Melvin Santana e Lucas Melifona
Preparação Corporal: Cristiano Karnas
Cenário: Julio Docjar
Figurino: Thais Dias
Assistência de Figurino: Carolina Gracindo
Desenho de Luz e operação de luz: Felipe Tchaça
Mídias Digitais: Diego Rodrigues
Arte Gráfica: Basq Anderson
Produção: Corpo Rastreado
Produção de Campo: Jeniffer Rossetti
Assessoria de imprensa: Canal Aberto
Assistência de Produção: Lilian Regina e Romário Oliveira

 

 

 

 

 

 

Silva
Teatro de Contêiner Mungunzá
Rua dos Gusmões, 43 – Santa Ifigênia
Capacidade: 99 lugares
De 14 de novembro a 21 de dezembro*
Segundas, terças e quartas, às 20h.
*No dia 23 de novembro não haverá apresentação.
Sessões extras em 22/11, 30/11 e 06/12 às 16h.
Ingressos: R$20,00 (inteira) e R$10,00 (meia-entrada)
Vendas pelo link Sympla e na bilheteria do teatro.
Duração: 105minutos
Recomendação: 16 anos

 

Foto: Karla Bright

1 comentário em “Espetáculo Silva, do coletivo Os Incendiários, busca um futuro revolucionário a partir da construção de uma subjetividade pretaAdicione o seu →

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