Carla Candiotto volta a Michael Ende para contar sua versão teatral do clássico de fantasia A História Sem Fim

Um dragão branco e um unicórnio azul, em forma de bonecos e animados pelos atores, conduzem a aventura de um menino com poder de imaginar tudo o que deseja…

 

 

 

 

 

A nova peça da premiada diretora trata da importância da fantasia. Espetáculo estreia para público dia 31 de março no Teatro SESI-SP. Indicada para Prêmio Governador do Estado 2023, Candiotto convidou mesmo elenco de Momo e o Senhor do Tempo.

Do mesmo autor da premiada Momo e o Senhor do Tempo, a nova criação teatral da diretora Carla Candiotto (Prêmio Governador do Estado 2005 pelo conjunto da obra, além de vários prêmios APCA e São Paulo (antigo Coca-Cola FEMSA) é A História Sem Fim, clássico da literatura alemã sobre o poder da fantasia, best-seller mundial traduzido para 44 idiomas, com mais de 9 milhões de livros vendidos. O espetáculo estreia dia 31 de março, domingo, às 15h, sua temporada popular no Teatro Sesi-SP até 30 de junho. A mágica aventura de um garoto que, pelas páginas de um livro, passa para o reino da fantasia, obra do escritor alemão Michael Ende, foi publicada pela primeira vez em 1979.

Para encenar o espetáculo, a diretora Carla Candiotto reuniu a equipe de criativos – Marco Lima na cenografia e bonecos, Wagner Freire na Iluminação, Fábio Namatame no figurino, Roberto Alencar na coreografia, Marcelo Pelegrini na trilha original e André Grynwask no vídeo e para adaptar a obra, Victor Mendes. Para treinar a técnica de arte marcial necessária para as cenas de luta da trama, a encenadora contou com o apoio luxuoso de Georgette Fadel e Ana Paula Gomes para ministrar as aulas de Aikidô ao elenco (Prêmio APCA de Melhor Elenco de 2022).

 

Sobre a adaptação de Carla Candiotto e Victor Mendes
A adaptação nasceu como um processo de arqueologia. Com delicadeza, fomos descobrindo o que o autor queria nos dizer e escolhendo os momentos, abrindo mão de alguns personagens e ampliando os significados de outros, fomos criando a nossa história sem fim. Uma versão movida pelo sentimento, pela emoção e sem esquecer, é claro, da diversão. “Sabemos da importância da imaginação para as crianças e esse livro é um prato cheio para mergulhar nesse universo. Já é a meu quarto espetáculo com Carla Candiotto e dessa vez nosso desafio era grande: revisitar um clássico da literatura infanto-juvenil e abrir espaço para o mundo da Fantasia”, comenta Victor Mendes.

 

Projeto de anos e técnica de roteirizar ações
No processo de adaptação do livro para o teatro, Carla passou por uma imersão criativa na obra. “Por tratar de questões universais, de ser um livro que fala com sua alma, como se relacionar com o mundo e autoestima, é grande o desafio de comunicar seu conteúdo para o universo de uma criança.” “Esse é um livro que cada pessoa que lê, interpreta de uma forma diferente pois coloca sua história nele, e como todos somos diferentes a história não tem fim, por isso da História sem fim.” A diretora leu o livro Momo e o Senhor do Tempo, do mesmo autor, aos 25 anos e, desde então, passou a seguir Michael Ende. Na adaptação dessa criou um prólogo para situar o espaço e a razão de estar contando a história. Na nova peça não foi preciso. “A adaptação é um outro olhar sobre a história, é um olhar muito pessoal uma sensação de estar falando de você próprio e não apenas de uma história”. Estamos em 2024, outras questões abalam o mundo, várias estão em curso e que bom poder falar sobre isso.

No decorrer de sua carreira, Candiotto encenou dezenas de clássicos infantis na Cia Le Plat du Jour para em seguida dirigir espetáculos para vários outros grupos e também as suas próprias produções. Fascinada pelo teatro físico, deparou-se com o desafio de contar uma história cujo livro original tem quase 500 páginas e um extenso volume de dados. Do calhamaço para o espetáculo de pouco mais de 60 minutos, o trabalho da encenadora foi suado. “Quando o Sesi aprovou o projeto, estudei o livro e para me instrumentalizar, estudei Análise Ativa, técnica russa, com Michelle Zaidon.” Contou com este suporte para dissecar e entender quais personagens poderiam ser cortados. Sabia que em 1h15 não poderia inserir todos os tipos citados. A proposta era descobrir quais eram os personagens fundamentais.

“Ficamos três meses nesse processo de estudo para começar a escrever a adaptação antes de partir para a redação do texto. Ao longo dos anos, desenvolvi uma técnica pessoal para criação – primeiro leio e depois decupo o roteiro de ação somente depois vou ao encontro dos atores e atrizes”, conta, ressaltando a importância da colaboração de Michelle nessa fase. Em seguida, estabeleceu-se a parceria com o ator Victor Mendes, que assina com Carla também a adaptação de Momo e o Senhor do Tempo. “Ele tem uma visão questionadora, o que é muito bom.” Por meio do personagem do menino, o autor definiu a existência desses dois universos. “Um não vive sem o outro, a fantasia e a realidade. Um dos mundos fica doente quando o outro não existe ou não tem espaço para existir”, aponta Carla, comentando não ser possível viver só na fantasia ou só na realidade. “Os dois são necessários para viver.” O menino em questão supera a dor da perda da mãe e recupera a autoestima, mergulhando nos livros. Por meio da fantasia, sai do processo de luto. “Seu mundo real está uma barra – perdeu a mãe e se sente invisível. Depois de resgatar a fantasia, passa por um processo difícil de aceitação de si mesmo e encontra um caminho.”

 

Sobre a cenografia de Marco Lima
Após meses de estudo e inúmeras proposições para a concepção da cenografia, cenógrafo e diretora chegaram a um lugar único para contar a história. Um porto/portal – de cores não espectrais, do preto ao branco passando pelos cinzas – situado num mar seco e arenoso. Uma cenografia simbólica ambienta a trama da peça, localizada em “uma terra devastada, fruto do abandono e esquecimento pelos seres humanos da importância da imaginação em nossas vidas. Tudo está seco, sem cor, sem vida. O que restou foi uma plataforma, um cais destruído que une dois mundos: o da Fantasia e o da Realidade”, explica Marco Lima. Personagens chegam e partem por esta plataforma, navegando em embarcações de um mundo distópico; alguns com esperança, outros sem nenhuma, pois o Nada se aproxima e poderá ser responsável pela completa destruição do reino de Fantasia.

“Esse ambiente é o reflexo metafórico do estado da mente de um garoto que, por sua imaturidade, não soube lidar com a dor da perda da mãe. Mas há um farol em cena, que, simbolicamente, trará a luz para orientar a hora mais escura de nossa história.” Um dragão branco e um unicórnio azul são bonecos animados pelos próprios atores. Com a técnica de manipulação direta, eles darão vida a estes seres imaginários. De grande porte, serão confeccionados em diversos materiais como: espuma, madeira, isopor, metal, tecidos, borrachas, cristais, acetatos e fibra de vidro. O dragão será feito em tecidos que ficam fluorescentes sob a luz ultravioleta, e o unicórnio trará o brilho de cristais para ganhar o aspecto mágico da irrealidade. “São animais fantásticos, que ainda não foram tragados pelo Nada, e auxiliarão na reconstrução deste reino destruído”, conta Marco. Quando a história sofre a interferência da ação de um garoto humano, a cenografia ganhará cor e vida a partir das criações da mente fértil dessa criança que tem o poder ilimitado de imaginar tudo o que deseja.

 

Sobre o figurino de Fábio Namatame
A concepção de Fábio Namatame para o figurino do espetáculo obedece a uma linguagem oriental, com inspiração na China, Japão, Índia, Indonésia, Arábia e Egito. Serão vestidos assim os seres fabulosos da história. “Será tudo muito colorido, como uma ilustração antiga, e um filtro ocre para dar o clima cinematográfico, quase uma pintura a óleo”, comenta Namatame. Da tapeçaria aos brocados, os tecidos incluem materiais sintéticos como plástico e tela de nylon, para dar volume. A estamparia também segue a inspiração do Oriente, “mescla de pintura japonesa com arabesco”. O figurino básico – que recebe as fantasias mais elaboradas em sobreposição – é um saruel e uma camisa. É bordô e tem inspiração nos manipuladores de bonecos balineses.

 

Sobre a direção de movimento de Roberto Alencar
A diretora considerou o Aikidô a melhor opção para combinar com a estética do espetáculo. Assim a técnica foi escolhida para ser usada na preparação corporal dos atores. “A construção da encenação foi desenvolvida por meio de golpes, onde o bastão e a espada desempenham papel importante”, explica Roberto Alencar. Como treinamento, conta Alencar, os atores e atrizes fizeram aulas regulares de Aikidô, sob orientação de Georgette Fadel e Ana Paula Brieda – duas vezes por semana. “Nos exercícios e golpes que esta luta marcial propõe é possível explorar qualidades de presença, escuta, atenção, aterramento, tranquilidade, espacialidade, expansão, controle, precisão e elegância dos gestos.” A coreografia do criativo para a peça está embrenhada na narrativa, com gestos e ações transportadas para o universo do surreal, do nonsense, sempre com o foco no humor e na diversão a nortear a montagem, marca registrada da diretora. “Fomos trabalhando o universo particular de cada personagem, priorizando o corpo como instrumento para contar a história”, diz. “Carla é uma diretora de teatro que pensa como uma coreógrafa, ela marca todos os momentos do espetáculo – cada gesto e passo dado em cena. Ela tem o pensamento muito coreográfico”, observa Alencar. “Este é um dos espetáculos em que Carla mais lançou mão de recursos multimedia, “com elementos fortes de cenografia, adereços, bonecos, interação com projeção de vídeo, a referência do figurino”.

Ficha técnica
Adaptação: Carla Candiotto e Victor Mendes
Direção: Carla Candiotto
Elenco e personagens:
Camila Cohen – Conselheira, Trole, Morla, Imperatriz Criança e Xayide, Antigos Imperadores
Carol Badra – Mãe, Conselheira, Morla, Corvo, Uiulala, Antigos Imperadores e manipulação do Artax.
Eric de Oliveira – Cairon, Trole, Dragão Fuchur, Corvo e Antigos Imperadores
Ernani Sanches- Pai, Conselheiro, Corvo, Gmork , Argax e manipulação do Artax
Thiago Amaral – Bastian Baltazar Bux.
Victor Mendes – Atreiú, Antigos Imperadores.

 

Sinopse
Tímido, Bastian Balthasar Bux adora ler, pois encontra nos livros uma forma de escape para sua vida tão triste. Com a morte de sua mãe, recebe um livro de presente e fascinado de forma mágica pelo mesmo, o menino mergulha em Fantasia tentando se afastar desse mundo real. Esse reino fantástico, está ameaçado pelo Nada, que se propaga cada vez mais de maneira assustadora. Mergulhado no livro, Bastian recebe o chamado das personagens da obra para salvar Fantasia. Nesse universo, a Imperatriz Criança, que adoece de forma misteriosa, só pode ser curada se receber um novo nome a ser dado por uma criança humana. Bastian se enche de coragem e junto, com o jovem herói Atreiú e o Dragão da Sorte Fuchur, atende o chamado de fantasia. O garoto se entrega a uma viagem na qual cada minuto importa. Seria Bastian a criança capaz de libertar o Reino de Fantasia?

 

 

 

 

 

A História Sem Fim
Centro Cultural Fiesp
Teatro do Sesi – SP.
Av. Paulista, 1313 – Bela Vista, São Paulo
Temporada: De 30 de março a 30 de junho de 2024.
Quinta e sexta, às 11h
Sábado e domingo, às 15h
Estreia para convidados: Sábado, 30 de março, 20h
Estreia para público: Domingo, 31 de março, 15h
Duração: 80 minutos
Classificação: Recomendado para maiores de 10 anos
Gratuito, tem que fazer agendamento pelo meu SESI 

Ensaio aberto para funcionários: 02 de abril, terça, 15 horas.

 

 

Sobre Carla Candiotto
A artista cria, escreve, dirige e produz espetáculos há mais de 25 anos. Ao longo de sua carreira, ganhou diversos prêmios APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) e São Paulo (antigo Prêmio Coca-Cola FEMSA) de melhor direção, melhor atuação e melhor texto adaptado. Em 2015, pelo Conjunto da Obra, recebeu o prestigiado Prêmio Governador do Estado. Sua mais recente criação, Momo e o Senhor do Tempo (2022), do mesmo autor do inédito A História sem Fim, também foi reconhecido pela crítica: com o APCA de Melhor Elenco e o troféu Pecinha é a Vovozinha do jornalista e crítico teatral Dib Carneiro Neto, para os melhores de 2022 no teatro para crianças, nas categorias Melhor Direção (Carla Candiotto), Melhor Ator (Victor Mendes), Melhor Iluminação (Wagner Freire) e Melhor Figurino (Chris Aizner) e melhor cenário (André Cortes). Com sólida bagagem e formação – estudou em Paris, com Philippe Gaulier e Arianne Mnouchkine; em Londres, com Desmond Jones e John Wright; na Itália, com Antonio Fava, Commédia Dell’Arte -, atuou em turnês de espetáculos na Europa, China e Austrália. No Brasil, é co-fundadora da Cia Le Plat du Jour, por 20 anos. Dirigiu trabalhos para companhias de Teatro como La Mínima, Cia Delas, Pia Fraus, Circo Mínimo, Parlapatões, Solas de Vento. Escreveu os musicais: A Casa de Brinquedos (2019) e Os Direitos da Criança (2015) – ambos com músicas de Toquinho, Aladim – o Musical (2009), Que Monstro Te Mordeu (2018, adaptado da série da TV de Cao Hamburger, com o Sesi-SP). Atualmente, é diretora de teatro do corpo estável de Jundiaí e adapta o livro do premiado Michael Ende “História sem fim” que tem estreia em 2014 no Sesi – SP.

 

Sobre o SESI-SP
O Teatro do SESI do Centro Cultural Fiesp, um importante equipamento cultural de São Paulo, celebra este ano 60 anos de atividades. Ao longo do tempo, segue oferecendo ao seu público uma programação gratuita, diversa e contundente, alinhada aos aspectos sociais e artísticos da contemporaneidade. A história sem fim, de Michael Ende, uma narrativa que atravessa gerações, é materializada neste encantador espetáculo infantil dirigido por Carla Candioto. Entre a literatura e o teatro, a imaginação e a realidade, dragões mágicos, unicórnios e cristais, a encenação nos convida a mergulhar na narrativa de modo a nos tornarmos leitor, personagem e espectador ao mesmo tempo, vivendo a história e todo o universo não passasse de vários livros dentro de outros livros sendo lidos, imaginados e experimentados ao mesmo tempo.

Nos conta a trajetória de Bastian, uma criança-herói, que transita entre a leveza e a densidade e faz da sua história um convite a todos para, através da fantasia, refletirmos sobre autoestima, identidade, responsabilidade e sobre a importância de se manter em movimento mágico e criativo do viver, como forma de resistir ao Nada que insiste em crescer ao nosso redor. Com curadoria da equipe do SESI-SP, os espetáculos apresentados, assim como toda a programação cultural da instituição, são captados por meio dos editais de chamamento lançados periodicamente, onde são selecionados projetos artísticos de todo o território nacional. A instituição desempenha uma fundamental mediação entre público e obra, proporcionando, muitas vezes, a primeira experiência com o teatro, aos mais diversos públicos, enquanto espaço de formação e usufruto.

 

Foto: João Caldas Filho

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