Rio Grande do Sul: A dimensão do terror é muito maior do que as notícias mostram, por Daya Moraes

Catástrofe no Rio Grande do Sul: O que ninguém lhes conta, e acredite, a dimensão é maior do que se vê!

 

 

Neste momento, mesmo a água do Arroio Feijó não chegando em minha rua, me encontro em uma zona de risco, ainda com luz, mas sem água, e sem previsão de retorno, pois em decorrência dos alagamentos, 100% da cidade está desabastecida, e acreditem, Alvorada (vizinha a Porto Alegre) onde moro, não é nem de longe uma das cidades mais atingidas.

Estamos vivendo a maior tragédia do Rio Grande do Sul, quem vive aqui entende o grau de todo este horror, infelizmente nos demos conta que o restante do país não tem a mesma noção ou informação do que está acontecendo aqui, sim, quase todas as cidades do estado estão sofrendo com as fortes chuvas, e as que ainda não estão sofrendo as consequências dessa tragédia, nos próximos sofrerão, pois é muita água concentrada no mesmo local, ou seja, todo o Rio Grande do Sul direta ou indiretamente sofrerá com essa crise climática.

É desesperador o que estamos vivendo, e estou aqui com intuito de humanizar, pois desde que tudo isso começou acontecer, percebemos o quanto uma narrativa de ódio se instalou sobre o povo gaúcho mediante a versões e histórias que nos generalizam, e principalmente nos invisibilizam diante essa tragédia. Não escrevo em nossa defesa, até porque não acho que seria o momento, mas trarei informações relevantes para que ao menos isso possa fazer as pessoas de fora do estado repensarem, principalmente porque neste momento precisamos de muita ajuda mesmo.

Por incrível que pareça, e muito fora do que nos impuseram, somos um estado muito plural. Por exemplo, você sabia que o Rio Grande do Sul é o estado que mais concentra afroreligiosos no país? Não somos apenas loiros, brancos, de olhos claros e bolsonaristas que falam mal de outros estados como nos veem. Eu acredito que neste momento, eu nem deveria precisar escrever sobre isso, mas vemos o quanto está narrativa permeia o ódio e o ressentimento dos outros estados em relação a nós. Não generalizem um povo por causa de um grupo de pessoas. Mais um exemplo, o tão famoso “separatismo” que falam, em meus 40 anos de vida nunca foi um assunto relevante para a grande maioria, não existe roda de conversas sobre isso, quando se menciona esse assunto aqui, geralmente estamos ironizando quem tem esse tipo de fala, a grande parte dos gaúchos considera esse assunto completamente absurdo. Rio Grande do Sul tem brancos, mas também tem pretos, pardos, indígenas, assim como em todo o restante do país. Hoje temos uma divisão política muito forte, temos bolsonaristas aqui? Claro! Temos também quem vota na esquerda, na direita, quem prefira ser centrista, afinal, somos um estado democrático, e isso não devia ser motivo para desumanizar um povo que está sofrendo muito neste momento. Não, nós não merecemos passar por isto.

Cidades estão submergindo, bairros inteiros evacuados, pessoas aguardando resgate que não está chegando para todos, morrendo em hospitais que estão sendo invadidos pela água, corpos sendo amarrados em postes para que não sejam perdidos, enfim, um terror que não é possível mensurar. Temos centenas de milhares de pessoas desabrigadas, com fome, sede, molhadas, sofrendo com hipotermia. É um verdadeiro cenário de guerra o que está acontecendo aqui. O povo está nas ruas se voluntariando, enfrentando situações que não estão preparados para ver. Um voluntário disse em um grupo que já estava sendo difícil desviar de animais mortos durante os resgates, mas que estava sendo chocante demais desviar dos corpos, e que as pessoas que estão na linha de frente vão precisar de muita ajuda psicológica para superar tudo isso depois.

Ontem viralizou a história da criança que foi resgatada e que pediu para o voluntário pegar uma boneca que estava boiando na água, aos prantos esse voluntário informou em áudio que não era uma boneca, e sim um bebê. Um barco de resgate cheio de crianças virou, não tinha salva vidas, os voluntários viram as crianças serem levadas pela água. Vocês têm noção do horror que estamos vivendo? O povo gaúcho está desesperado, nos supermercados já faltam itens básicos como água, alimentos, e produtos de higiene, pois infelizmente, mesmo com toda nossa união, ainda tem pessoas que agem por egoísmo, e compraram esses produtos em massa para estocar. Estamos sofrendo com os saques, assaltos aos barcos e jetskis que estão fazendo os resgates, e até mesmo assaltos aos voluntários, principalmente nos bairros pobres, e isso dificulta ainda mais o resgate em alguns lugares.

Estamos vivendo uma situação sem precedentes, e não basta só parar de chover, quando a água recuar, infelizmente teremos uma maior representação de todo esse caos, muita gente continua desaparecida, muitos pais dão preferência em salvar seus filhos, então, temos muitas crianças sozinhas nos abrigos. É um cenário desolador. E infelizmente a imprensa tem o dever de não maquiar mais esta situação, estamos realmente implorando ajuda de todas as formas, e graças a Deus, mesmo com toda essa visão negativa do Rio Grande do Sul, estamos recebendo muita ajuda de fora do estado, e somos muito gratos, muito mesmo!

Entretanto, para toda essa desgraça, definitivamente vamos precisar de muito mais, alguns prefeitos já informaram que tem cidades que não vão se recuperar, pois não é possível convencer as pessoas a voltarem para suas casas depois disso, temos bairros e cidades que simplesmente deixarão de existir. A configuração do estado vai mudar bruscamente depois dessa tragédia.

Infelizmente o Estado não cumpriu com o seu papel, com essa catástrofe vimos o quanto inapto foi o governo diante de uma crise climática que já se instala há tempos. O Rio Guaíba invadiu o centro da capital, alagando até mesmo a prefeitura do estado, a água definitivamente está varrendo tudo. Não podemos mais aceitar que governantes ironizem e ridicularizem o debate sobre o meio ambiente, ou situações como estas vão virar rotina, não apenas em nosso estado, mas no país inteiro.

Estamos diante da maior tragédia do nosso estado, e esse meu relato é apenas uma forma de pedir para que quando você leia sobre o que está acontecendo aqui, prefira humanizar primeiro, politizar depois. Sei que é necessário falarmos sobre política neste caso, mas não podemos esquecer que do outro lado estamos lidando com vidas, e neste momento, é a única coisa que realmente deveria importar em qualquer discurso. Homens, mulheres, crianças, idosos, e animais estão morrendo, sofrendo e lutando para viver. Precisamos de ajuda, empatia, solidariedade e humanidade, julgamentos não nos ajudarão a passar por tudo isto agora.

 

Pensem sobre isso!

Artigo de Daya Moraes  

 

Sobre a autora
Daya é comunicadora e uma artista versátil envolvida na música, atuação, e comunicação, além de ser uma das embaixadoras do WME Awards Powered By Billboard BR. Seu estilo musical transita pelo Pop e R&B. Suas músicas são um convite para refletir sobre o poder da arte como uma forma de expressão e a vida.

 
Foto: Reprodução Instagram 

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