Dia 19 de maio, o Museu de Arte Sacra de São Paulo – MAS/SP, instituição da Secretaria da Cultura do Estado, inaugura “Sagrado Marfim: O Avesso do Avesso”, sob curadoria de Jorge Lúzio e Maria Inês Lopes Coutinho…
Composta por cinquenta e três peças do acervo do MAS/SP, a mostra propõe repensar o uso do marfim nas obras de arte e em seus desdobramentos iconográficos, destacando sua historicidade que remonta à antiguidade, às artes africana e asiática, até aos objetos artísticos e litúrgicos na Europa medieval e moderna – o que reverbera nas produções encontradas em inúmeras sociedades interligadas pelo sistema colonial.
Raras obras de arte, de tamanhos diversos, com exemplares dos séculos XVII, XVIII e XIX. A partir de uma perspectiva histórica, esta nova mostra do Museu de Arte Sacra de São Paulo foi concebida no intuito de estimular diálogos multidisciplinares com a História Social da Arte, a Antropologia, a Museologia, os Estudos Afro-asiáticos, a História Ambiental, o Patrimônio e a Arte Sacra. Nos dizeres de José Carlos Marçal de Barros, diretor executivo do MAS/SP: “Segundo o Antigo Testamento, o Rei Salomão mandava trazer marfim de Társis, nas rotas do Oriente. Fídias, o incomparável artista grego, utilizou marfim em uma das mais importantes estátuas da Grécia Antiga, a Atena Pártenos, para homenagear a deusa no Partenon. E em tempos mais recentes, o magnífico Demetre Chiparus utilizava metal e marfim em suas estatuetas indiscutivelmente belas. As obras mais afamadas são as chamadas criselefantinas em bronze e marfim. Tão rica e antiga é a utilização do marfim em obras de arte que uma exposição que pretendesse apresentar a sua história seria praticamente impossível”.
No âmbito das relações entre as metrópoles com suas colônias, assim como nos vínculos intracoloniais e intercoloniais, o marfim configura uma categoria histórica milenar, desde a antiguidade, na África e na Ásia, até sua circulação na Europa. O entalhe em dentes de mamíferos possui origem remota, associada à ancestralidade das culturas que confeccionavam objetos para inúmeros fins. Como explica o curador Jorge Lúzio: “Nas rotas que interligavam reinos e entrepostos no continente africano, ou entre os circuitos de mercantilismo que integravam o Mediterrâneo ao Índico, sempre esteve o marfim como item dos mais apreciados e valiosos, por possibilitar uma incomparável plasticidade e um efeito visual cuja precisão nas formas e nas linhas, resultavam numa expressividade de imagens e reproduções jamais obtidas noutra matéria prima”.
Não obstante a arte em marfim possuir uma sofisticação visual inigualável, seu antagonismo reside no debate ambiental, ao se repensar como a ordem global e os sistemas econômicos se apropriaram das tradições, em um processo de mercantilização dos recursos naturais e de banalização da vida – uma vez que se chegou ao século XX com uma demanda e um consumo de objetos em marfim no limite da sobrevivência dos animais. “Assim, a exposição apresenta entre suas contribuições a oportunidade de, ao observar raríssimas esculturas e obras de incontestável importância do patrimônio colonial, relembrar que entre as funções da Arte está o despertar da consciência histórica, para que o sentido de preservação de todas as formas de Vida, dos legados históricos e da memória possam contribuir na produção de conhecimento e na promoção da cultura, sensível a aprender com o passado, e sobretudo, comprometida com os desafios do tempo presente”, conclui Jorge Lúzio.
Mais sobre o assunto, nas palavras de Maria Inês Lopes Coutinho: “A palavra marfim tem sua procedência provável do árabe, casmal-fif, sendo fif: elefante e casm: osso, significando osso de elefante. A organização social dos elefantes é um matriarcado. Os machos jovens andam em bandos de solteiros e os velhos vivem solitários em locais onde há água e comida. São muito sensíveis. A gestação dura 22 meses; quando nascem, pesam 100 quilos; medem um metro de altura; o coração pesa 25 quilos e mamam 10 litros de leite por dia. Proveem da África, Ásia, Filipinas. A função da presa é de buscar alimentação, sal, água, escavar atrás de minerais necessários à sua sustentação e de defesa contra eventuais ataques, além de manter a sua identidade dentro da manada. Em sua composição há fosfato de cal, de magnésio, carbonato de cálcio e fluoreto de cálcio. A temperatura ideal de conservação é 18 graus C e 60% de umidade relativa”.
“Sagrado Marfim: O Avesso do Avesso”
Curadoria: Jorge Lúzio e Maria Inês Lopes Coutinho
Museu de Arte Sacra de São Paulo
Av. Tiradentes, 676 – Luz (ao lado da estação Tiradentes do Metrô)
Tel.: 3326-5393 – agendamento / educativo para visitas monitoradas
Abertura: 19 de maio de 2018, sábado, às 11h
Período: 20 de maio a 5 de agosto de 2018
Horário: Terça-feira a domingo, das 9 às 17h (bilheteria das 9 às 16h30)
Ingresso: R$ 6,00 (estudantes e idosos pagam meia); grátis aos sábados
Jorge Lúzio
Doutor em História Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo / PUC-SP, mestrado em História pela mesma instituição e estágio doutoral na Universidade de Évora – Portugal (Bolsista CAPES Sanduíche). Com pós-graduação em Arte e Cultura Barroca (Universidade Federal de Ouro Preto-UFOP / MG), atua em História Moderna e História da Ásia através das temáticas do Império português na Índia, Estudos Afro-asiáticos, Pós colonialismo, Arte e Cultura indiana, voltando-se para duas linhas de investigação: circulações, iconografias e cultura material nos períodos medieval e moderno, e problematizações em gêneros e representação na Índia colonial. Possui formação em Teatro-Educação pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC / Ilhéus-BA) e Dança Clássica Indiana – estilo Odissi / DRT-SP, como pesquisador-intérprete no âmbito acadêmico, através de Pós-doc interdisciplinar voltado à Tradição Devadasi em História, Teatro e Antropologia da Dança. Membro do Laboratório de Interlocuções com a Ásia / LIA-FFLCH USP / CNPq (Projeto Pensando Goa), aprofunda-se nos estudos sobre as bailadeiras e os artistas da Índia portuguesa. Integra o Grupo de Pesquisa Outros Orientes / UNIFESP-UFRJ,CNPq, e o LEOA – Laboratório de Estudos Orientais e Asiáticos / UNIFESP. Coordena o grupo de estudos “Europa medieval, África e Oriente: sociedades entre redes e circulações” no Unifai, uma perspectiva interdisciplinar no ensino de História. Docente nos cursos de pós-graduação em “História da África”, “História – Arte / Cultura e Patrimônio”, e “História, Civilização e Pensamento Medieval” no Centro Universitário Assunção – Unifai / PUC-SP, e no Museu de Arte Sacra de São Paulo, MAS/SP, por meio de projetos em consultoria artística, ensino e pesquisa.
O museu
Instituição da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, o Museu de Arte Sacra de São Paulo é uma das mais importantes instituições do gênero no país. É fruto de um convênio celebrado entre o Governo do Estado e a Mitra Arquidiocesana de São Paulo, em 28 de outubro de 1969, e sua instalação data de 28 de junho de 1970. Desde então, o Museu de Arte Sacra de São Paulo passou a ocupar ala do Mosteiro de Nossa Senhora da Imaculada Conceição da Luz, na avenida Tiradentes, centro da capital paulista. A edificação é um dos mais importantes monumentos da arquitetura colonial paulista, construído em taipa de pilão, raro exemplar remanescente na cidade, última chácara conventual da cidade. Foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, em 1943, e pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico e Arquitetônico do Estado de São Paulo, em 1979. Tem grande parte de seu acervo também tombado pelo IPHAN, desde 1969, cujo inestimável patrimônio compreende relíquias das histórias do Brasil e mundial. O Museu de Arte Sacra de São Paulo detém uma vasta coleção de obras criadas entre os séculos 16 e 20, contando com exemplares raros e significativos. São mais de 18 mil itens no acervo. O museu possui obras de nomes reconhecidos, como Frei Agostinho da Piedade, Frei Agostinho de Jesus, Antônio Francisco de Lisboa, o “Aleijadinho” e Benedito Calixto de Jesus. Destacam-se também as coleções de presépios, prataria e ourivesaria, lampadários, mobiliário, retábulos, altares, vestimentas, livros litúrgicos e numismática.
Fotos:
Santana Mestra, autor desconhecido (Século XX), dimensões: 44 x 35,5 x 27 cm
Bom Pastor, autor desconhecido (Século XVII), dimensões: 19,8 x 5,9 x 4,8 cm
Conjunto Do Desterro (Nossa Senhora do Desterro, São José Peregrino e o Menino Jesus), autor desconhecido (Século XIX), dimensões: 35 x 33,5 x 9,5 cm
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