Fama e a mortalidade de Brigitte Bardot

“A velhice é uma tarde fria de outono, repleta de melancolia”

 

Uma musa do cinema internacional e símbolo sexual desembarca no Brasil para tirar férias. A imprensa, alcateia faminta, persegue cada um de seus passos, devorando a paz, a intimidade e a própria luz dessa estrela, que se vê obrigada a esconder-se na casa de um amigo por alguns dias. Sim, falo da vinda de Brigitte Bardot ao Rio de Janeiro em 1964. No auge de sua fama trouxe, além das malas, o olhar penetrante do mundo. Mas seria ela uma vítima?

Este episódio é retratado em “Com Amor, Brigitte”, texto de Franz Keppler que está sendo encenado no Pequeno Auditório do MASP sob a direção de Fábio Ock. Para o diretor, o espetáculo “discute a linha tênue entre liberdade de expressão e invasão de privacidade.”

Na peça, Brigitte, interpretada pela atriz Bruna Thedy, refugia-se na casa do camareiro do hotel onde estava hospedada. Alternando momentos dramáticos com reflexões sobre a fama e o futuro e momentos de pura vaidade, Bruna entrega uma boa e convincente atuação apesar de, nas primeiras tentativas de representar a excentricidade da musa, faltar-lhe uma considerável dose de naturalidade.

André Corrêa, que interpreta o camareiro, está ótimo do início ao fim. Imagine-se sendo um solitário e invisível funcionário de hotel e, de repente, abrigar uma das maiores estrelas de todos os tempos (pela qual você nutre desejo e admiração) em sua casa. André incorpora com maestria a tempestade de sentimentos do personagem, incrédulo perante a inesperada hóspede.

O texto, sensível e questionador, desconstrói, sem pretensões, o endeusamento das celebridades, os limites da mídia, a velhice e o vazio que todos nós temos. Quando despista a multidão de curiosos e repórtes, Bardot é apenas Brigitte, tão humana e mortal quanto seu anfitrião. É ótima a cumplicidade que surge entre os dois à medida que trocam experiências e perspectivas.

O clima de intimidade é, inclusive, valorizado pelo Auditório. Sou super fã de casas pequenas, pois podemos ficar bem próximos aos atores e isso, sem dúvidas, traz uma incrível sensação de intimidade com a peça. O Pequeno Auditório do MASP é, surpreenda-se, pequeno, com capacidade para 80 pessoas – parece menos. Se por um lado isso é ótimo, o espelho para onde os personagens vão algumas vezes, no fundo da plateia, talvez incomode um pouco. A visibilidade fica prejudicada pois temos que virar para trás e quem está do outro lado não vê quase nada. Mas nada que prejudique o espetáculo. Na verdade, sendo uma técnica diferente da confortável “só olhar para o palco”, serve para prender a atenção. Divagações.

O espetáculo conta também com bem-vindos recursos cenográficos, como câmeras que ficam a todo tempo reproduzindo a própria peça e o lado externo do teatro. Sorria, você está sendo filmado.

Temporada prorrogada até o dia 26 de junho, as sextas, sábados e domingos no Pequeno Auditório do Teatro do MASP.

Isaac Gonçalves

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