Arnaldo Antunes

O primeiro show que eu fui na vida foi dos Titãs. Foi lá no parque Villa Lobos, no fim do século passado, e, o melhor de tudo: era de graça. Acho que era show de lançamento daquele álbum de covers deles. O Arnaldo Antunes, naquela época, já tinha saído da banda, o Marcelo Fromer ainda estava vivo, e o Nando Reis ainda tocava baixo.

Curiosamente, embora tenha sido um evento memorável para mim, confesso que o grupo não marcou tanto assim minha formação musical. Com o lançamento do álbum Nheengatu, em 2014, resolvi ouvir novamente a discografia mais antiga da banda, de quando ela ainda contava com a poesia e com o vozeirão do Arnaldo Antunes. Depois dessa viagem no tempo, fica difícil não entender que os Titãs é a maior banda de rock do país.

A obra do Arnaldo pós-Titãs tomou rumos bem diferentes, formando um conjunto mais tranquilo, mais romântico, e muito mais lírico. Isso não significa dizer que ele, digamos, tenha “abandonado a causa” (como o Nando Reis, por exemplo), mas sim que ele é um artista que buscou abranger outros temas da vida. Isso pode desagradar aquele pessoal mais revoltado, mas fazer o que.

Enfim, falemos do show “A Casa é Sua”, que aconteceu no dia 19/04, no Teatro Porto Seguro. Tratou-se de um humilde spin-off da recente turnê de lançamento do álbum “Já É”. Entretanto, ao contrário das apresentações do início do ano, este teve uma proposta mais intimista, quase acústica, e lançou mão de canções de várias fases da carreira. Dessa vez, Arnaldo se fez acompanhar apenas de dois ótimos músicos, Chico Salem (guitarra, violão e voz) e Betão Aguiar (violão, acordeão, teclado e voz).

Como era de se esperar, os arranjos foram bem enxutos, tendo cada instrumento tocado uma função bem clara em cada música. Devo dizer que em uma ou outra música o som me pareceu meio vazio, como se faltasse alguma coisa, como uma bateria para definir o ritmo ou um baixo para dar uma empurrada na música. Mas, como disse, isso aconteceu apenas em uma música ou outra, e eu só estou escrevendo isso para cumprir minha função de crítico. De qualquer forma, o trabalho final ficou excelente, como era de se esperar.

Por mais que a proposta tenha sido fazer um show mais tranquilo, Arnaldão não se conteve nem um pouco. Fez suas clássicas dancinhas, agitou bastante o público, e, no auge do show, até desceu do palco e deu umas voltas para ficar cara a cara com seus fãs. Um sucesso.

Durante cinco minutinhos, o astro se retirou do palco para dar ao seu parceiro Chico Salem, que aproveitou para tocar uma canção de sua autoria, chamada Obsessão, que integra seu recém lançado álbum, Maior ou Igual a Dois. Recomendo.

Lá pelo fim do show, um rapaz da plateia começou a incessantemente pedir a música “O Pulso”. Eu tinha certeza que, apesar da insistente chatice do colega, isso dificilmente aconteceria, já que essa canção está fora do repertório de shows da carreira solo do artista faz tempo. Ledo engano: nosso querido Arnaldo, já no finzinho do bis, mostrou que, além de ser merecedor de todo o reconhecimento que tem como músico, é também um cara bem bacana, e resolveu atender o pedido que, na realidade, estava no fundo do coração de todos nós. Uma beleza que só!

Por fim, preciso dar meus parabéns à seguradora por ter coragem de bancar um teatro de ponta nos Campos Elíseos, em um bairro tão desvalorizado de São Paulo. Talvez isso seja um sinal de gentrificação, mas cultura nunca é demais.

Fotos: Bruna Bucci e Raquel Vera

Leonardo Milani

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