Pele Negra, Máscaras Brancas no Sesc Vila Mariana

No dia 17 de dezembro, sábado, em apresentação única, da estreia em São Paulo, novo espetáculo de dança negra contemporânea da companhia paulistana Treme Terra. Com direção-geral de João Nascimento e Firmino Pitanga, o espetáculo – que celebra os 10 anos do grupo – é uma criação coletiva, inspirada no livro homônimo de Frantz Fanon…

 

 

O novo trabalho do Treme Terra é o resultado de dois anos de pesquisas que aprofunda a temática apresentada em Terreiro Urbano, espetáculo anterior do grupo, sobre movimentações dos orixás, suas mitologias e arquétipos. “Criamos de maneira poética cenas amalgamadas que discutem o racismo diante da patologia sócio-cultural e os rituais de cura inspirados nas manifestações dos terreiros de candomblé, a partir de uma releitura contemporânea e urbana”, conta João nascimento, diretor e um dos fundadores da companhia.

A montagem conta ainda com a participação do artista plástico Achiles Luciano, que interage ao vivo com projeção digital, compondo o ambiente da performance cênica a partir da ferramenta denominada Tagtools. Já os figurinos foram criados por Silvana Marcondes, enquanto a cenografia é assinada por Julio Dojcsar.

“Pele Negra, Máscaras Brancas” é baseado em estudos sobre as relações étnico-raciais no Brasil, num paralelo com o livro homônimo de Frantz Fanon, e reúne estudos sobre a mitologia dos orixás e experiências pessoais relatadas em depoimentos pelos artistas do elenco. Na montagem, o livro é utilizado como principal material disparador para as composições coreográficas e musicais.

A obra de Fanon tornou-se referência para os movimentos anticolonialistas e os movimentos negros das Américas. Embora tenha se passado mais de meio século desde a sua escrita, é um dos clássicos da literatura negra que ainda hoje desperta uma importante reflexão sobre as máscaras brancas que foram mantidas na atual sociedade brasileira e outras que surgiram nas últimas décadas. O autor e psicanalista Frantz Fanon faz uma abordagem sobre a relação entre o colonizador e o colonizado, a partir da psicologia, desmistificando o complexo de inferioridade.

“O espetáculo nasce da necessidade de identificar e discutir alguns traumas vividos por negros e negras na sociedade moderna, destacando na montagem as máscaras usadas como meio de sobrevivência as diversas formas de opressão e aceitação no convívio cotidiano das relações sociais”, relata Nascimento.

Ele acrescenta ainda que a Dança Negra Contemporânea, estilo de produção artística de movimentação corporal utilizado para levar essas questões sócio raciais para o palco, é uma linguagem ideal já que é “marcada por uma estética predominantemente brasileira a partir das matrizes africanas”.

“Pele Negra, Máscaras Brancas” tem na música executada ao vivo uma forte característica, tornando-se uma marca registrada dos espetáculos da Cia Treme Terra. “Nesse trabalho as músicas autorais e de domínio público dialogam constantemente, ora como protagonistas, ora como co-protagonistas das movimentações de dança, contribuindo para a construção de narrativas e dramaturgias cênicas”, explica Nascimento. Um álbum musical da companhia está em fase final de produção, com lançamento previsto para o início de 2017.

Ficha Técnica
Direção geral: João Nascimento e Firmino Pitanga
Direção musical: João Nascimento
Direção coreográfica: Firmino Pitanga
Assistente de direção: Andrus Santana
Elenco: Andrus Santana, Beatriz Cristina, Luciano Virgílio, Luiz Negresco, Malu Avelar, Terená Kanouté, Tito Nascimento, Thiago Bilieri, Daniel Pretho, Afroju Rodrigues, João Nascimento, Junior Santiago, Pedro Henrique, Luana Bayo, Guilherme Frattini, Paulinho Paes e Bira Nascimento.
Cenário: Julio Dojcsar
Figurino: Silvana Marcondes
Iluminador e técnico de luz: André Rodrigues
Técnico de som: Lindemberg Oliveira
Preparação vocal: Adriana Moreira
Produção: Fernanda Rodrigues, Alexandre Alves e Pedro Henrique
Artista convidado: Achiles Luciano (Grafite digital)

 

 

Espetáculo Pele Negra, Máscaras Brancas
Sesc Vila Mariana
Teatro
Rua Pelotas, 141 – Vila Mariana – SP
Tel.: 5080-3000
Capacidade: 620 lugares
Duração: 70 minutos
Sábado, 17 de dezembro, 21h
Ingressos:
R$ 25,00 (inteira)
R$ 12,50 (meia: estudante, servidor de escola pública, + 60 anos, aposentados e pessoas com deficiência)
R$ 7,50 (credencial plena: trabalhador do comércio de bens, serviços e turismo matriculado no Sesc e dependentes).

 

Cia Treme Terra
Em 2006, com o propósito de valorizar, pesquisar e difundir a Cultura Negra, surge a Cia Treme Terra, fruto das atividades de formação artística sócio-culturais promovidas no Morro do Querosene, zona oeste da cidade de São Paulo, contribuindo para a descentralização da produção de dança contemporânea na cidade. Em 2009, a Cia se muda para o bairro do Rio Pequeno e cria o Afrobase, sede da Cia e núcleo de formação nas linguagens de dança e música, buscando promover a transdisciplinaridade e constituir um espaço de discussão, troca e pesquisa acerca da Cultura Negra em diálogo com a comunidade do entorno.

No mesmo ano, a Cia estreia sua primeira obra, chamada “Cultura de Resistência”, espetáculo que aponta o início da pesquisa em Dança Negra Contemporânea, centrado na promoção do diálogo da linguagem da música com a dança. O trabalho contou com a direção geral, artística e musical de João Nascimento e direção coreográfica de Kelliy Anjos. Esse projeto também resultou na criação de um álbum musical com as trilhas criadas para o espetáculo e um vídeo-documental com performances de dança em espaços públicos e depoimentos de importantes artistas que contribuíram para processo de montagem desta obra.

Em 2009, a Cia convida o coreógrafo Firmino Pitanga para dar início ao novo projeto de pesquisa intitulado Terreiro Urbano, estreado em 2012, no Grande Auditório do Masp. Utilizando-se do vocabulário da Dança Negra, a Cia desenvolveu uma pesquisa sobre as danças dos orixás em contexto urbano. Baseado na representação simbólica de um xirê (cerimônia tradicional de saudação e exaltação a todos os orixás, sequência de danças do candomblé, que começa com Exu e finaliza com Oxalá), a Cia resignifica esta manifestação, trazendo-a para o contexto urbano. No ano de 2013, a Cia foi convidada para representar o Brasil com o espetáculo Terreiro Urbano no programa de circulação da Europa Kinder Kultur Karawane, contando com cerca de 20 apresentações na Alemanha e Bulgária e cerca de 15 workshops de Dança Negra e Música Afro-brasileira.

Desde o primeiro semestre de 2013, a Cia tem promovido diversas discussões em torno das políticas públicas de fomento e financiamento para a Dança Contemporânea Paulistana, tornando-se protagonista no movimento de democratização e popularização dos resursos públicos. Por meio de encontros com artistas, grupos, companhias e coletivos periféricos, no início de 2015, a Cia co-articulou a fundação do Fórum de Artes Negras e Periféricas, ampliando a visibilidade sobre o tema, ganhando projeção midiática e gerando importantes reflexões no ambiente da dança. O Movimento contribuiu para um novo olhar e entendimento sobre a produção de dança contemporânea brasileira, propiciando a reflexão sobre novas poéticas de Dança no município de São Paulo e outros questionamentos que tem reverberado em todo o território nacional.

Fotos: Raul Zito

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