Cia do Caminho Velho e Cia do Pássaro Voo e Teatro reestreiam o espetáculo “Nomen”

Depois de uma temporada de sucesso de público e crítica dentro do projeto Teatro Mínimo do Sesc Ipiranga, o espetáculo Nomen, que marca a parceria entre os coletivos paulistas Cia do Caminho Velho e a Cia do Pássaro Voo e Teatro, volta aos palcos de São Paulo a partir de 1º de setembro, sábado, às 20 horas, no Espaço Cia do Pássaro – Voo e Teatro. Com texto de Bruno Feldman e direção de Alex Araújo, montagem traz no elenco os atores Carolina Erschfeld e Dawton Abranches…

 

 

 

 

Em um mundo tomado pela fome e pela peste, sucumbindo em fogo e água, uma garota e seu pai doente são salvos por um soldado dissidente e passam a dividir um abrigo entre escombros. Enclausurados por um dilúvio, com uma horda de esfomeados à espreita, nesse contexto, uma luz que vem de fora passa por uma fresta e se projeta na parede. Aquilo os inquieta. Aos poucos tal inquietação se torna também pavor. Com o velho doente e prestes a morrer, e a tensão constante de uma iminente invasão, uma questão se apresenta – “qual é o seu nome?”.

Nomen (nome em latim) é uma reconstrução poética das narrativas judaico-cristãs do apocalipse e do dilúvio. Entretanto, aqui não se tem o homem sendo punido ou purificado pela vontade divina. Mas sim a guerra humana que traz consigo a peste, um levante de esfomeados e a morte. Dissecando a arrogância humana, a encenação questiona a honra que o homem erigiu a partir de atrocidades históricas. A figura feminina sobressai na possibilidade de remissão humana e numa possível gênese de um novo mundo. A reconstrução do futuro que se dá a partir dos destroços do ego do homem.

 

Honra e feminino

Para o autor Bruno Feldman, em Nomen a natureza das coisas, tal como as conhecemos, está arruinada. Dilúvio e barbárie dissolvem os sentidos e signos produzidos e praticados pela humanidade, os nomes instituídos perdem seu lastro com a realidade e nada mais é passível de definição. “Mutilar ou apagar o nome de uma pessoa é condená-la à impotência ou à morte. Paradoxalmente é também o nome das coisas que determina sua função e desígnio e desta maneira a confina em um modo de ser no mundo. Escrevi esse texto pela necessidade em dar forma a um mal-estar permanente incrustado em nossa existência, esse tumulto interior incapaz de ser capturado por um nome”, explica ele.

Já o diretor Alex Araújo conta que durante o processo criativo da peça percebeu que a dramaturgia exigia que ele e o elenco tomassem decisões. “Em vários momentos nos perguntamos, por exemplo, quem eram as figuras identificadas no texto como ele e ela. Para nós ela é uma menina prestes a se transformar em mulher, condenada a cuidar de um pai moribundo. Ele, um soldado angustiado que resiste em nome de algo que possa chamar de honra. Nesse universo a encenação aponta para a reconstrução do mundo após o Armagedon, agora não mais a partir da honra, mas de outra perspectiva: o feminino”, diz o diretor.

Ficha Técnica
Dramaturgia – Bruno Feldman
Direção – Alex Araújo
Elenco – Carolina Erschfeld e Dawton Abranches
Sonoplastia – Carlos Ronchi
Cenário e Figurino – Paloma Neves
Iluminação – Alex Araújo
Fotografia – Rodrigo Baroni
Design Gráfico – Felipe Uchôa

 

 

 

Nomen
Com a Cia do Caminho Velho e Cia do Pássaro Voo e Teatro
Espaço Cia do Pássaro – Voo e Teatro
Rua Álvaro de Carvalho, 177 – Centro
Informações: 98365-5850
Capacidade: 35 lugares
Duração: 40 minutos
Reestreia dia 1º de setembro
Temporada: Até 30 de setembro
Sábados, às 20h
Domingos, às 19
Ingressos:
R$ 30,00
R$ 15,00 (meia-entrada)
Classificação: Não recomendado para menores de 14 anos

 

A parceria
A Cia do Caminho Velho nasceu em 2007 de um movimento de alunos do campus de Humanas da Universidade Federal de São Paulo – entre eles Carolina Erschfeld e Alex Araújo –, e é hoje um coletivo de teatro que, em parceria com a Unifesp, investiga em cena novas dramaturgias. Entendendo como novas dramaturgias aquelas que exploram diferentes formatos estruturadores do texto.

A Cia do Pássaro Voo e Teatro foi criada, por sua vez, em 2011, a partir da reunião de Alessandro Marba e Dawton Abranches, entre outros artistas, interessados em desenvolver parcerias com novos autores e pesquisadores para estudar e desvendar estéticas, conceitos e formas acerca do fazer teatral e permitir que esses artistas desenvolvam seus trabalhos.
A peça Nomen, a partir do texto escrito por Bruno Feldman, propiciou o encontro entre esses dois coletivos, ambos interessados em novas dramaturgias. A parceria começou a se concretizar em novembro de 2015 quando se reuniram pela primeira vez os atores Dawton Abranches e Carolina Erschfeld, sob a direção de Alex de Araújo. Iniciou-se então o processo de pesquisa e montagem do espetáculo, priorizando a relação do ator com o texto dramatúrgico, e somando-se a isso as questões presentes no texto, como a da derrocada da honra como princípio moral de nosso tempo e o feminino como posicionamento de enfrentamento e contraponto ao patriarcado, que sensibilizou toda equipe.

Fotos: Rodrigo Baroni

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