Só Ópera estreia como uma das comemorações dos 80 anos de Luiz Damasceno

Resultado de pesquisa sobre humor radiofônico, que contou com a presença da diretora e pesquisadora Neyde Veneziano, a montagem tem texto e direção de Giovani Tozi…

 

 

 

 

Novas mídias e redes sociais cada vez mais modernas evidenciam o conflito de gerações, no campo profissional. É o caso de dois radialistas que lutam, cada um à sua maneira, para salvar um tradicional programa de ópera. Inspirado pelo humor radiofônico, Só Opera revisa os clássicos do gênero, como A Flauta Mágica e Carmen, e pela via da paródia, lança um outro olhar sobre o herói. Gravado com três câmeras no Teatro João Caetano, o espetáculo de 70 minutos de duração estreia dia 10 de setembro para temporada on-line de sexta a domingo até 19 de setembro. A ação de passa nos dias atuais, no estúdio de uma emissora.

Em cena os atores Luiz Damasceno e Giovani Tozi encarnam dois radialistas, apresentadores de um programa de rádio sobre ópera, respectivamente, o veterano e respeitado Luiz Pavarinni e o novato recém-formado Enzo Valentim.

Entre um e outro número musical, os personagens dramatizam, em diálogos fictícios, paródias de óperas, entre elas Macbeth (de Verdi, baseada na peça homônima de Shakespeare), A Flauta Mágica (de Mozart), Carmen (de Georges Bizet, baseada na romance homônimo de Prosper Mérimée), Romeu e Julieta (de Charles Gounod, baseada na obra de Shakespeare) e Arca de Noé (de Benjamin Britten). Só Opera estreia em 2021 como uma das comemorações dos 80 anos de Luiz Damasceno. O ator e diretor, responsável por dezenas de atores através da EAD, onde foi professor por mais de 25 anos, tem uma longa parceria com Giovani Tozi. A dupla trabalhou junto pela primeira vez em 2009, em “O Colecionador de Crepúsculos”, de Vladimir Capella, quando Giovani Tozi foi contemplado pelo Prêmio Coca-Cola ao interpretar o filho caipira de Damasceno. Eram contos de Câmara Cascudo e o elenco contava também com Selma Egrei.

“Na peça ele me provocava o tempo todo, entendi ali o que era jogo. Damasceno é uma pessoa muito importante na minha vida. Foi uma baita escola. Devo a ele muito da minha trajetória profissional no teatro.” De lá pra cá, somam-se vários trabalhos e projetos, incluindo a mostra de artes plásticas SOPRO, projeto de Tozi que compartilhará, pela primeira vez, um pouco das mais de 50 obras que Luiz Damasceno produziu durante toda sua trajetória. Sobre a montagem, pelo fato dos dois artistas terem feito vários trabalhos juntos, a direção é um processo desenvolvido a quatro mãos e com delicadeza. “Nossa dupla dá certo porque sou mais da encenação, enquanto Dama foca na direção de ator. A gente se complementa”, conta Tozi.

“É muito divertido fazer a peça, é brincadeira em cima de brincadeira”, diz Damasceno. Mesmo sendo comédia, a peça abriga uma camada densa na trama. Ao revelar a dificuldade do ser humano de mais idade com as novas mídias, a história mostra o personagem de Damasceno perdendo o controle, o domínio absoluto de uma situação vivenciada durante muitos anos. Luiz Damasceno, que recentemente dirigiu Tozi em Peixe Cabeça de Cobra e fez participação em Não se Mate, ambas no formato virtual. Damasceno acredita que o risco do online é cair no teatro filmado (“aí não dá para aguentar”). Sua expectativa para o novo espetáculo é que a edição consiga chegar na linguagem televisa, com a possibilidade de cortes proveniente da diversidade de tomadas. “A esperança é levar a peça para o espaço de um teatro.” Quando não está no palco ao lado de Giovani, Damasceno atua como coach do parceiro, que sempre dá um jeito de convidar o amigo para entrar na equipe de suas produções.

Só Ópera se apoia no rádio, para desenrolar uma história sobre progresso e inovação. Contudo, o veículo “rádio” figura como um elemento sintético, de todos os demais canais de comunicação, seja ele do terreno do entretenimento, como a televisão, seja no campo das artes, como o próprio teatro. Refletir sobre tecnologia em áreas essencialmente humanas, gera uma série de controvérsias, afinal, em que medida algo que depende da interlocução entre duas pessoas pode sofrer uma interferência positiva da máquina? Responder qualquer questão relacionada a esse entrave pode ser precipitado, uma vez que a popularização e o acesso massivo do fenômeno digital tem raízes curtas. Só Opera propõe, portanto, que pensemos sobre esse movimento, e oferece a comédia, gênero mais popular dos palcos brasileiros, para que isso seja feito.

Giovani Tozi assina o texto e a direção, consolidando seu quarto trabalho na condução de espetáculos de teatro e dança, criados para o ambiente on-line, durante a pandemia. Seu último trabalho teatral, Não Se Mate, monólogo protagonizado por Leonardo Miggiorin, foi apontado pela crítica como uma das mais importantes estreias da temporada, com destaque para a dramaturgia de Tozi, pelo Observatório do Teatro, no UOL.

 

Sobre o embate geracional de Só Opera, o autor comenta:

“Escrever um texto teatral sobre a influência que uma geração causa a outra é uma ótima oportunidade para pensar sobre um assunto cada vez mais evidente em nossos dias. Atualmente, tivemos a viralização do termo “cringe” nas redes sociais, ele foi criado por jovens da geração z (aqueles nascidos entre 1995 e 2010), para denominar atitudes ou opiniões que consideram vergonhosas dos millenials (nascidos entre as décadas de 1980 e 1990). Essa disputa sempre existiu, seja entre os de 60 com os de 70; ou o dos 80 contra o dos 90. É normal que tenhamos afeto pelos anos de nossas vidas que são relacionados ao período das descobertas. O que a contemporaneidade atualizou sobre essa questão é que não são mais as afetividades que dividem as opiniões, mas a rapidez com que as tecnologias avançam e as novas maneiras de se comunicar se estabelecem. O resultado pode ser uma incompatibilidade de diálogo, e um abismo cultural e social entre as gerações.”

Só Opera é consequência de uma pesquisa sobre humor radiofônico iniciada em 2018 por Giovani Tozi. Tozi, que é doutorando e mestre em artes da cena pela Unicamp, na ocasião, investigava os manuscritos de Dario Fo da década de 1950, quando o Nobel italiano apresentava um programa de rádio, em Milão. A partir deste estudo, Giovani entendeu ser a palavra a maior ferramenta a se explorada na encenação. Desse modo, outros elementos como cenário, figurino e luz foram concebidos como suporte à palavra e a peça valoriza os efeitos vocais, as variações de timbre e as modulações de voz dos atores. No programa Quiquiriqui, Fo parodiava histórias populares, dando voz aos oprimidos, que ele chamava de “poer nano”, ou seja, “pobre coitado”. Tozi selecionou alguns desses textos, especialmente os relacionados à opera, algumas muito famosas, outras mais desconhecidas. O trabalho contou com a presença luminosa da diretora e pesquisadora Neyde Veneziano, que esteve presente em todo o processo de dramaturgia. Veneziano, que foi orientadora de Tozi no mestrado, traduziu e adaptou as paródias de Dario Fo, ao lado do especialista em ópera, Sérgio Casoy.

O espetáculo Quiquiriqui estreou em 2019, com direção da própria Neyde Veneziano. O elenco era formado por Giovani Tozi e Luiz Damasceno, e por Eugênio La Salvia, que, além de atuar, era responsável por executar a trilha sonora ao vivo. Veneziano, que dedicou seu pós-doutorado a Dario Fo, percebeu que o que era feito em Quiquiriqui não era mais Dario Fo, e sim um desdobramento de uma das páginas de sua vasta obra. Diante dessa percepção, Tozi iniciou um processo de reescrita da obra, almejando a aplicação de sua pesquisa em direção teatral e sobre a autonomia dramatúrgica, descolando-se dos manuscritos de Fo.

Ficha Técnica
Texto e Direção: Giovani Tozi.
Com: Luiz Damasceno e Giovani Tozi.
Luz: André Lemes.
Diretor de Vídeo: Matheus Luz.
Fotografia: Ronaldo Gutierrez.
Edição: João Martinez.
Produção: Bruno Tozi.
Assessoria de Imprensa: Maria Fernanda Teixeira e Macida Joachim – Arteplural.
Administração: Carlos Gustavo Poggio.
Contadora: Andressa Cherione.
Realização: Tozi Produções Artísticas

 

 

 

 

Só Opera
Duração: 70 minutos
Classificação Indicativa: 12 anos

Teatro Arthur Azevedo
Dias 10, 11 e 12 de setembro de 2021
Sexta e Sábado às 21h e Domingo às 19h
Ingresso – gratuito (Evento Online)

Teatro João Caetano
Dias 17, 18 e 19 de setembro de 2021
Sexta e Sábado às 21h e Domingo às 19h
Ingresso: gratuito (Evento Online)

 

Sobre Luiz Damasceno
Luiz Damasceno cursou Artes Cênicas e Plásticas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul entre os anos de 1962 e 1967, tendo sido aluno de mestres em teatro como Eugênio Kusnet e Gerd Bornheim e artistas plásticos como Regina da Silveira, Ado Malagoli e Alice Soares. No teatro atuou com diretores como Ademar Guerra, Maurice Vaneau, Gerald Thomas, Mauro Mendonça Filho, Sérgio Ferrara, Bete Coelho, Bob Wilson, William Pereira, Otávio Martins e Jô Soares, entre outros, e tendo sido professor de interpretação na EAD/ ECA/ USP em São Paulo por mais 25 anos. Conquistou, ao longo de sua carreia dentro das artes, prêmios de pintura, de desenho, de cenografia, de figurino, de direção e prêmio SHELL de melhor ator.

 

Sobre Giovani Tozi
Giovani Tozi é ator, diretor e produtor de teatro. Atualmente é doutorando e mestre em artes da cena pela UNICAMP. Foi artista residente no Performing Arts Forum, na França, onde desenvolveu o solo autoral Fluxo Migratório. Integrou o núcleo de artes cênicas do SESI, sob orientação de Isabel Setti e desenvolveu trabalhos com diversos diretores, entre eles Georgette Fadel e Felipe Hirsch. Dirige o Grupo Corpos Sensores, onde criou os espetáculos A Anatomia da Culpa; Saída de Emergência; e Corpo Estranho, contemplado no Curta Dança Nacional, com os prêmios de melhor espetáculo e melhor coreógrafo. Recebeu o Prêmio Coca-Cola por sua atuação em O Colecionador de Crepúsculos, de Vladimir Capella. Integrou o elenco de diversas montagens teatrais, entre elas: Sacrifício – Romeu e Julieta, dir. Cibele Forjaz; Pergunte ao Tempo, dir. Otavio Martins (indicado ao prêmio Aplauso Brasil, de melhor elenco); Cais Oeste, dir. Cyril Desclès; As Atrizes, dir. Léo Stefanini; As Luzes do Ocaso, Daqui Ninguém Me Tira e Quiquiriqui, dirigidos por Neyde Veneziano; A Noite de 16 de Janeiro, e Tróilo e Créssida, dirigidos por Jô Soares, para quem também fez assistência de direção. É autor do conto Peixe Cabeça de Cobra que deu origem ao projeto homônimo, dirigido por Luiz Damasceno, Guilherme Sant’anna, Sandra Corveloni e Marco Antônio Pâmio; e de onde partiu o monólogo Peixe Fora D’água, com atuação de Tozi, texto e direção de Marcello Airoldi. É autor e diretor do espetáculo Não Se Mate, monólogo com Leonardo Miggiorin, apontado pelo crítica como uma das mais importantes estreias da temporada. Nas artes plásticas é cartazista e diretor de arte gráfica, tendo trabalhado com diversos diretores, entre eles Jô Soares, de quem é aprendiz e a quem dedica os estudos de mestrado e doutorado.

 

Exposição online O Sopro reúne parte dos 70 quadros produzidos na pandemia

Um dos mais importantes atores de teatro de sua geração, o gaúcho Luiz Damasceno comemora seus 80 anos revelando a segunda grande paixão de sua vida com a exposição O Sopro, a partir de 24 de setembro, com visitação virtual pelo Espaço Cultural Bricabraque on-line, de graça.

Desde garoto o ator e diretor Luiz Damasceno gosta de pintar. Um dia chegou em casa e disse ‘olha me inscrevi na escolinha de arte’. O garoto desenvolto devia ter uns 9 anos, procurou a professora e falou que queria participar. “Olhei pelas janelas e vi todo mundo brincando, pensei ‘que mundo maravilhoso é esse’. E nunca parei de pintar. Sempre que tinha um tempo disponível eu pintava.”

Gaúcho de Porto Alegre, quando chegou em São Paulo, em 1971, aos vinte e poucos anos precisou escolher entre pintar e fazer teatro. Ficou com o segundo. “Sem pintura eu sobrevivo, sem teatro não.” A escolha não freou sua produção e a pintura seguiu como hobby até que veio a pandemia e Damasceno produziu 70 quadros em acrílico sobre tela. “Foi enlouquecedor. Tem muito material. A mostra vai exibir alguns.”

Todas as obras estão na sua casa. Só na sala ele contou 29, pendurados ou no chão, encostados na parede. Outros tantos ficam no quarto da área de serviço. “Parei de comprar tela, ou paro de pintar ou terei de sair do apartamento, pensei.

A mostra online servirá como um aperitivo, pois o sonho é levar O Sopro para um espaço físico, onde os quadros possam ser comercializados. “Se na exposição quiserem comprar será ótimo, não tenho mais lugar aqui em casa. Daqui a pouco não dá mais para abrir a porta.”

O Sopro ganhou este título, conferido pelo ator e diretor Giovani Tozi, responsável pela produção da exposição, pela própria técnica desenvolvida pelo artista. Pincel em punho, Luiz Damasceno começa o processo por manchar a tela, aleatoriamente, com tinta acrílica bem aguada. A partir do que a imagem lhe sugere, ele segue sua inspiração. “Não gosto de formas realistas, proporcionais, prefiro figuras fantásticas”.

Alegres em sua maioria, devido à escolha das cores, os quadros exibidos nesta mostra online seguem o recorte temático As Mulheres. Alguns trazem figuras de animais (“pequenos ou não, eles estão lá”) e tem também o tema circo (“eu achava mágico ir ao circo”).
A Mulher de Luva Laranja, A Velha Senhora, O Caminho de Casa, Passeio no Parque Público, Que horas são?, Retrato de Josephine Baker, A Lagarta, Folhetim e Ensaio Geral são algumas das obras.

Espaço Cultural Bricabraque on-line
Acesso: www.youtube.com/giovanitozi
Grátis | * após o lançamento o conteúdo ficará liberado para a visitação
Abertura: Sexta-feira, 24 de setembro de 2021, às 20h

Obras: Luiz Damasceno
Direção e concepção geral: Giovani Tozi
Performance: Louise Helène
Direção de audio visual: Matheus Luz
Trilha Sonora: Invisible – NTO
Produção: Bruno Tozi
Administração: Carlos Gustavo Poggio
Idealização: Giovani Tozi
Assessoria de Imprensa: Maria Fernanda Teixeira – Arte Plural

Luiz Damasceno (Porto Alegre RS, 1941) – É artista plástico, ator e diretor. Formou-se em Artes Plásticas e Artes Cênicas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul em 1967. Entre os anos de 1962 e 1967 foi aluno de mestres em teatro como Eugênio Kusnet e Gerd Bornheim e artistas plásticos como Regina da Silveira, Ado Malagoli e Alice Soares, nos palcos atuou com diretores como Ademar Guerra, Maurice Vaneau, Gerald Thomas, Mauro Mendonça Filho, Sérgio Ferrara, Bete Coelho, Bob Wilson, William Pereira, Otávio Martins e Jô Soares. Prêmio Shell de teatro, o artista é reconhecido por sua atuação nos palcos do Brasil e do mundo, e também pela formação de grandes atores do teatro brasileiro, como professor da Escola de Arte Dramática EAD/USP por mais de 25 anos. Conquistou, ainda, prêmios de pintura, desenho, cenografia e figurino.

 

Foto:  Ronaldo Gutierrez 

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