Sete Cortes Até Você estreia no Centro Cultural SP

A autora do texto Soraia Costa também está em cena ao lado do filho Valentino Manolo. A peça-performance, que dialoga com o teatro documentário e tramita entre o biográfico e a ficção, mostra o dilema de uma futura mãe, que descobre na gravidez que seu filho virá ao mundo com vários problemas de saúde…

 

 

 

 

Um dos três vencedores do 7º edital da Mostra de Dramaturgia em Pequenos Formatos Cênicos do Centro Cultural São Paulo, o texto Sete cortes até você, de Soraia Costa estreia dia 29 de abril, sexta-feira, às 20h, no Espaço Cênico Ademar Guerra, do Centro Cultural SP. Com direção da própria autora, que está em cena ao lado do filho Valentino Manolo, a montagem atravessa questões atuais, como aborto, violência obstétrica, deficiência, eugenia, imigração, diversidade e representatividade.

Sete cortes até você marca a estreia de Valentino Manolo no teatro e a volta de Soraia Costa aos palcos. Valentino atuou nos últimos quatro anos em produções audiovisuais, sendo seu mais recente trabalho a série Escola de Gênios, do canal Gloob, enquanto Soraia, após um período de 12 anos atuando como fotógrafa e vivendo na Áustria, constrói um espetáculo a partir de sua gravidez.

“Brinco que a maternidade me tirou de cena, mas também está me trazendo de volta aos palcos”, conta a autora. Já Valentino está super animado e aposta na diversão em sua estreia no teatro ao lado da mãe. “Eu sempre tento fazer o meu melhor então acho que não muda muita coisa se é minha mãe ou outra pessoa em cena. Quer dizer, com a minha mãe as vezes eu dou uma relaxada, porque sei que ela não vai ficar brava”, ri o jovem ator.

Com provocação de Janaina Leite, Maria Amélia Farah, Eric Lenate e Erica Montanheiro, Sete cortes até você é um espetáculo documental baseado nos preceitos da performance autobiográfica com a utilização de materiais pessoais para elaborar sua argumentação.

 

Real e ficção
A montagem mostra o dilema de uma futura mãe, que descobre na gravidez que seu filho virá ao mundo com vários problemas de saúde. Confrontada com a possibilidade de interromper legalmente a gestação com quase 24 semanas, a mulher se vê diante de um dilema implacável. Soraia completaria as 24 semanas no dia seguinte à descoberta dos diagnósticos e tinha apenas 12 horas para fazer esta escolha. “Eu tive uma única noite para viver o luto do meu filho idealizado, da história perfeita que projetei para mim, até conseguir confrontar meu filho real, e aceitá-lo ou não”, conta. Mesmo com medo, ela decide continuar. A criança nasce prematura, com lábio leporino e fissura no palato, sopro cardíaco, atresia de esôfago, e é submetida à sete cirurgias nos primeiros quatro meses de vida. No total, até hoje, foram 17.

No palco, mãe e filho, hoje com 14 anos, munidos de documentos, fotos, e vídeos captados ao longo deste período, contam suas versões desta história real e que acomete uma a cada 650 crianças nascidas no Brasil. Em Sete cortes até você Soraia e Valentino investigam a fronteira entre o real e o ficcional propondo um diálogo entre a cena ao vivo e o mundo virtual – universo contemporâneo dos adolescentes – brincando com a linguagem dos youtubers, a velocidade de informações do TikTok e projeções de animações onde seus corpos se encaixam nos desenhos, constituindo assim espaços transmidiáticos dos quais emergem novos formatos de comunicação.

“À partir do momento em que se coloca uma história real em cena, ela passa a ser ficção. Vai ser elaborada com uma artesania narrativa e poética própria das estruturas dramatúrgicas, tramitando e borrando estas fronteiras do que é biográfico – ainda que tudo que esteja ali tenha acontecido de verdade” explica Soraia que brinca: “Até que se prove o contrário!”

 

Documentário cênico
Os sete cortes do título do espetáculo são os efetuados pela técnica tradicional da cesariana: são sete incisões entre pele, gordura e músculo, até o útero, para se chegar ao bebê. A dramaturgia que se inicia como uma fábula, ainda com a atriz/mãe sozinha em cena é acalorada com uma encenação dinâmica que no seu crescente funciona como cada um destes cortes, até o nascimento do ator/filho. “Meu parto foi totalmente protagonizado pelos médicos, que realizaram os procedimentos que eles escolheram, então uso a cena para redesenhar essa história e encená-lo como eu sonhei”.

No palco, um grande útero envolve todo o espaço cênico – “que poderia ser também um grande paraquedas, pois assim caímos neste mundo, sem escolher muito bem onde”, conta a diretora – e uma tela de projeção apresenta elementos audiovisuais como vídeos de acervo, frases, documentos, que dialogam e fazem parte da narrativa. “É fácil cair num melodrama contando este tipo de história de superação com criança, mas vamos totalmente em outra direção, trazendo humor, poesia, rock n´roll e terror em uma linguagem pop, performativa e que dialoga com várias mídias”.

Sem se apoiar em discursos ideológicos ou propagandísticos, Sete cortes até você estabelece um debate sobre a interrupção da gestação avançada em decorrência de malformação fetal, prática comum em países europeus, chegando a uma porcentagem muito alta de abortos com até 24 semanas. Na decisão de descontinuar ou não uma vida que se forma, a peça mergulha fundo na intimidade da autora, atravessada pelo drama de uma decisão implacável: em uma gravidez desejada, você abortaria se descobrisse que seu filho será uma pessoa com deficiência?

Outros temas importantes em foco no espetáculo são a violência obstétrica, que muitas mulheres não conseguem identificar de imediato quando sofrem os abusos, o medo da perda do filho a cada procedimento cirúrgico – que culmina com uma velório ritualizado em cena, este que a mãe ensaia ficcionalizando, para nunca ter que viver – e a deficiência assombrada até hoje por crenças populares, tabus e preconceitos. “É extremamente necessário que pessoas com deficiência ocupem lugares de visibilidade, com acesso à experimentação de suas habilidades, pois quando são representadas incentivam e inspiram outras pessoas. Através da cultura, a deficiência pode ser vista e entendida de uma outra forma, valorizando o potencial individual de cada um”, acredita Soraia.

Ficha Técnica
Concepção, Direção e Dramaturgia – Soraia Costa. Elenco – Soraia Costa e Valentino Manolo. Desenho de Luz – Aline Santini. Assistentes de Iluminação e Operação Técnica – Giorgia Tolaini e Letícia Trovijo. Figurino e Adereços – Daniela Gimenez. Cenário – Carmela Rocha, Sofia Gava e Paula Thyse. Produção Cenográfica e Cenotécnica – Yuri Godoy e Gabriel Salvador. Trilha Sonora – Soraia Costa. Coreografia – Fernando Delabio. Provocadores – Janaina Leite, Maria Amélia Farah, Érica Montanheiro e Eric Lenate. Participação Especial – Renato Santana. Animação – Amanda Trindade. Videomapping – Ivan Soares. Vídeos e Edição – Soraia Costa. Engenharia de Som e Operação Técnica – Rodrigo Florentino. Cinematografia/Direção de Fotografia Subaquática – Lucas Pupo. Assistente de Fotografia Subaquática – Richard Reis. Iluminação Filmagem Subaquática – Octa Produções Ltda. Colorista – Lupércio Bogéa. Mergulhador de Segurança – Felipe Bataline. Operador de Câmera para Making Of – Alef Paz. Designer Gráfico – Henrique Mello. Preparador Vocal Musical – Eric D´Ávila. Assessoria de Imprensa – Nossa Senhora da Pauta. Produção – Costa & Manolo. Consultoria de Produção – Henrique Mariano. Assistência de Produção – Carô Calsone. Colaboração em Produção – Cris Maluli. Advogado – Marcos Porto. Apoio Filmagem – Liquidophoto e Octa Produções Ltda. Apoio Locação – Evidive – Escola de Mergulho.

 

 

 

 

 

Sete cortes até você
Centro Cultural São Paulo
Espaço Cênico Ademar Guerra
Rua Vergueiro, 1000 – Estação de metrô Vergueiro.
Telefone (11) 3397-4002
Capacidade – 60 lugares
De 29 de abril a 8 de maio
Sexta-feira e sábado às 20h (sessão extra dia 5 de maio, quinta-feira, às 20h com tradução em libras)
Duração – 100 minutos
Classificação – 14 anos
Bilheteria abre uma hora antes do espetáculo
Ingressos – R$30,00 (inteira) e R$15,00 (meia-entrada).
Acesso para pessoas com deficiência

 
Sobre Soraia Costa
Formada em Artes Cênicas pela Universidade Estadual de Londrina (PR) estudou no Seminário de Max Reinhardt em Viena na Áustria – país onde morou por seis anos. Sua educação também se construiu a partir de diversos workshops e cursos no Brasil e exterior com profissionais como Roberta Carrieri (Odin-Dinamarca), Verônica Fabrini, LUME, Elias Andreato, Carlos Reichenback, Márcia Abujamra, José Eduardo Belmonte, Madalena Bernardes, Celso Frateschi, Paulo Lage e Tadashi Endo, entre outros. Dos espetáculos que participou destaque para Veredas da Salvação, direção de Sandra Corveloni; Herói Devolvido, direção de Mário Bortollotto; Curta Passagem, direção de Maurício Arruda Mendonça; Apocalipse 1.11, direção de Antonio Araújo (festivais de BH, Londrina e Porto Alegre) e as performances Uma Mulher ao Sol, (auto autobiográfica), You Dream com o grupo franco austríaco Superamas e o experimento cênico Inquietos Radicais com direção de Chris Jatahy com quem participou também do documentário UTOPIA.DOC. Em 2019 atuou em Tag Machine, direção de Henrique Mello e Diego Ribeiro; 6 minutos, direção de Gustavo Ferreira e Fábio Penna; Babel ou do país da anestesia, direção de Henrique Mello e Tiago Leal (todos com a Cia. Os Satyros) e O Reverso, direção de Gabriela Caraffa. Como produtora foi responsável pela produção executiva dos espetáculos A Louca De Chaillot com Cleide Iáconis e Luisa Valentina com Simone Spoladore e Rosanne Mulholland ao lado do diretor de produção Henrique Mariano.

 

Sobre Valentino Manolo
Nascido em 2008 com lábio leporino, fissura no palato, atresia de esôfago e sopro cardíaco, Valentino desde cedo provou não apenas sua valentia como suas habilidades artísticas. Aos dois anos gravou uma publicidade com Kate Perry, sua primeira aparição na TV. Entrou na Escola de Dança do Theatro Municipal de São Paulo aos seis e cursou por dois anos a Iniciação ao Ballet, além de participar do curso livre de teatro da EMIA. Há três anos é um dos protagonistas da série Escola de Gênios, do canal Gloob (Globosat) que já está na 6° temporada. Dirigida por João Daniel Tikhomiroff, a série foi vendida para 42 países e recebeu os prêmios de Melhor Série de 2018 na Rio2C, foi a
grande vencedora da 18° Edição do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro e é finalista de Melhor Programa Infantil, que será anunciada na cerimônia do MipCom Júnior, em Cannes, na França.

 

Foto: Ivan Soares

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