Cia. do Caminho Velho estreia Caatinga na SP Escola de Teatro

Texto de Rudinei Borges com direção de Alex Araújo é uma metáfora contada por quatro mulheres sobre a secura da vida e a masculinidade presente nos interiores de um Brasil rural e rústico…

 

 

 

 

Escrita a partir de uma imersão do dramaturgo Rudinei Borges no sertão do Rio Grande do Norte, Caatinga, a nova montagem da Cia. do Caminho Velho com produção da Atores Associados, adentra o universo dos vaqueiros nordestinos e aborda em específico sobre o imaginário afetivo e conflitivo da tradição passada de pai para filho. O espetáculo com direção de Alex Araújo estreia dia 17 de setembro, sábado, às 20h30, na SP Escola de Teatro.

Metáfora sobre a secura da vida e o agreste de ser macho, Caatinga – contemplada com o Prêmio Zé Renato de Teatro da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo – traz no elenco as atrizes Carolina Erschfeld, Daiane Sousa, JoJo Brow-nie Souza e Naloana Lima. A montagem, após apresentações na SP Escola de Teatro, faz temporada no Teatro Arthur Azevedo de 14 a 30 de outubro, sexta-feira e sábado às 21h e domingo às 19h.

Em Caatinga um vaqueiro e seu filho vivem sozinhos no sertão. O pai prometeu a mãe que o filho não seguiria sua sina de vaqueiro. Analfabeto, ele queria ver o filho usando “as palavras bonitas”. Mas esse sonho do pai não encontra terreno fértil nas vontades do menino, que vê com os olhos brilhando os homens saindo para a lida, matando animais e vestindo a indumentária própria dos vaqueiros. Assim, o espetáculo traz à cena momentos de convivência entre estes dois homens até que o menino se torna um vaqueiro.

Aos poucos também a montagem apresenta uma angústia vivida pelo menino que agora se torna homem e começa a se sentir confuso com relação aos desejos de seu corpo. A dramaturgia cria uma situação de quase isolamento desses dois homens, no meio do sertão, aumentando ainda mais um silêncio presente no mundo masculino.

 

 

Quatro atrizes em cena
O dramaturgo Rudinei Borges estabelece uma relação poética entre a história narrada e a vegetação da Caatinga em uma comparação com a secura da vida, mas também da secura do ser homem e da violência que existe na construção do masculino. “Dizeres, vocábulos, imagens, atmosferas, geografias e narradores que permeiam a dramaturgia da peça eu trouxe de minha imersão em Afonso Bezerra, pequeno município do sertão do Rio Grande do Norte. Estive lá, em 2017, para a gravação de um curta metragem, o que proporcionou o convívio com poetas, cantadores de cordel e vaqueiros da região. Caatinga é o trajeto do ser humano procurando afeto mesmo na aridez”, explica o autor.

Já para o diretor Alex Araújo, o texto levanta muitas questões, e sem a pretensão de resolvê-las, com sua montagem, pretende-se deixar que elas ressoem. “Com essa obra, podemos trazer para o campo da fala, do canto e da voz, aquilo que é silenciado, escondido, naturalizado. Caatinga nos auxilia a nos questionar sobre o que se entende de masculinidade, por isso a opção de ter em cena quatro atrizes para falar de uma ferida aberta do masculino. É através delas, que ouvimos a história destes dois homens, marcada pela falta de espaço para uma troca de afetividade”, conta ele.

A encenação, de acordo com Alex Araújo, visa problematizar as construções de masculino a partir da mulher: “considerando que o masculino e o feminino não dizem respeito às nossas condições biológicas, o teatro na apropriação de vozes e corpos masculinos por mulheres questiona o lugar do homem na sociedade”, acredita o diretor.

Caatinga é um texto imagético e traz para o centro do palco a fauna e flora do sertão nordestino. O imaginário desse bioma também está presente na cenografia e figurinos assinados por Telumi Helen e na iluminação do próprio diretor Alex Araújo, onde as atrizes trazem alguns pontos de luz em suas próprias mãos.

Ficha Técnica
Direção – Alex Araújo. Dramaturgia – Rudinei Borges. Atuação – Carolina Erschfeld, Daiane Sousa, JoJo Brow-nie Souza e Naloana Lima. Cenografia e Figurino – Telumi Hellen. Sonoplastia – Vitor Djun. Iluminação – Alex Araújo. Artistas Convidados para Vivências – Kenia Dias, Luciano Mendes de Jesus e Verônica Santos Assessoria de Imprensa – Nossa Senhora da Pauta. Produção – Atores Associados.

 

 

 

 

 

Caatinga
Com a Cia. do Caminho Velho
Classificação etária: 16 anos
Duração: 60 minutos
Gratuito

Dias 17 e 24 de setembro e 8 de outubro, sábado, às 20h30.
SP Escola de Teatro – Sala R8
Praça Roosevelt, 210 – Centro
Telefone – (11) 3775-8600.

De 14 a 30 de outubro, sexta-feira e sábado às 21h e domingo às 19h
Teatro Arthur Azevedo
Av. Paes de Barros, 955 – Alto da Mooca
Telefone – (11) 2604-5558

 

Sobre a Cia. do Caminho Velho
A Cia do Caminho Velho possui cerca de 15 anos de existência, e desde 2015, com a estreia de Bonita, de Dione Carlos, no Sesc Ipiranga, monta unicamente textos de autores que estão escrevendo agora e brasileiros. Essa escolha por textos experimentais está conectada a uma pesquisa acadêmica que o grupo desenvolve no campus de humanas da UNIFESP, no OBS.CENA, laboratório e observatório da cena.

 

Foto Carolina Erschfeld, Daiane Sousa, Naloana Lima e Jojo Brownie Souza: Rodrigo Baroni

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