Teatro Aliança Francesa fecha as portas com a peça Agnes de Deus

Com direção de Murillo Basso, o espetáculo aborda a investigação de um crime: O assassinato de um bebê recém-nascido. A dramaturgia levanta discussões sobre temas de extrema relevância e atualidade no Brasil. O trio de protagonistas é formado pelas atrizes Clara Carvalho, Gabriela Westphal e Mariana Muniz…

 

 

 

 

Agnes de Deus será a última peça no Teatro Aliança Francesa que fecha as portas no próximo domingo, dia 3 de dezembro, para a tristeza de todos os paulistanos. O local foi símbolo de resistência durante a ditadura militar no Brasil e palco de montagens célebres na história do teatro brasileiro durante os seus 60 anos de existência. O espetáculo foi escrito pelo dramaturgo americano John Pielmeier em 1979 e toca em temas como o embate entre religião e ciência, fé e ateísmo, a violência e o controle sobre o corpo feminino e a institucionalização do poder. A direção é de Murillo Basso e o elenco é formado por Clara Carvalho, Gabriela Westphal e Mariana Muniz. Nesta última semana, as sessões são sexta e sábado, às 20h, e domingo, às 18h. A idealização do projeto é de Ariell Cannal e Gabriela Westphal na Cannal Produções.

A trama é um thriller psicológico que aborda a investigação de um crime: O assassinato de um bebê recém-nascido, supostamente cometido pela própria mãe da criança, uma jovem freira. A peça, baseada em fatos reais, nos conta os desdobramentos desta investigação. A história tem início quando um bebê é encontrado morto em um cesto de lixo no quarto de um convento. O texto apresenta a Dra. Martha (Clara Carvalho), uma psiquiatra; a Irmã Miriam Ruth (Mariana Muniz), coordenadora de um convento; e Agnes (Gabriela Westphal), uma jovem freira.

Supõe-se que Agnes, a mãe da criança, teria dado à luz e, em seguida, matado seu bebê. Madre Miriam acredita que a jovem foi tocada por Deus, defendendo a ideia de que a criança poderia ser o resultado de uma concepção miraculosa, sem intercurso sexual. Já a Dra. Martha transita do ceticismo e do pragmatismo científico ao envolvimento cada vez mais obsessivo e pessoal com o caso de Agnes.

A idealização do projeto iniciou durante a montagem da obra de Molière – Escola de Mulheres – da Cannal Produções, quando Ariell Cannal e Gabriela Westphal interpretaram, respectivamente, Horário e Inês sob a direção de Clara Carvalho. Durante o processo criativo, ambos tiveram acesso ao texto de John Pielmeier e pensaram em uma futura peça.

“Agnes é uma incógnita, ela é diferente, todavia não conhece o mundo. É como se tivesse uma ligação com o divino, incorpora a fé na vida do dia a dia. A personagem sofreu muitos abusos quando era pequena, cheia de traumas”, fala Gabriela.

Clara Carvalho ressaltou a importância das camadas que permeiam a dramaturgia. “O Brasil e o mundo têm passado pela questão do fundamentalismo religioso, é importante visitar esse texto levando em consideração os momentos sociopolíticos dos últimos anos. A grandeza deste trabalho é que ele discute com uma série de questões femininas sem se fechar em si. Lida com o erótico, o espiritual e o místico para trazer uma boa história”.

A paisagem sonora em cena, assinada por Morris, permeia o canto da personagem, habilidade que é praticada por Gabriela. A cenografia de Mira Andrade reforça que a peça se passa em um universo plano mental e as unidades de espaço não são bem determinadas, as cenas podem se passar ora em um consultório, ora em um convento. O desenho de luz, de Aline Santini, e o figurino, de Marichilene Artisevskis, dialogam com essa espécie de fluxo de pensamento e memória que guiam a trama.

De acordo com Murillo Basso, “A violência brutal sofrida por Agnes é um eco da nossa realidade, mas a direção encontra no mistério e nas perguntas sem resposta a possibilidade de expandir essa narrativa e tocar o desconhecido. A encenação parte de um lugar mais realista e vai se desdobrando poeticamente através do corpo em movimento, das sonoridades a iluminação e as transformações do espaço”.

Agnes é um agente transformador que impacta a vida e o modo de agir da psiquiatra Martha e da Irmã Miriam Ruth. Apesar de serem dois pólos distintos, a ciência e a religião, as duas não são antagonistas, pois elas desejam proteger a freira mais nova. Clara enfatiza que a sua personagem até torce para que a jovem seja inocente e sua pureza seja preservada. A madre de Mariana Muniz também mira no lado imaculado de sua protegida. “Ela era uma mulher que nem tinha certeza da existência de Deus, mesmo sendo freira. Porém ao ouvir o canto de Agnes, a Irmã Miriam foi atingida pela inocência e a divindade”.

A equipe de profissionais tem uma extensa carreira que já rendeu mais de 10 prêmios somados entre APCA, SHELL, além de mais de 12 indicações. As três atrizes estiveram juntas no elenco de O Jardim das Cerejeiras do russo Anton Tchekhov, também produzido por Ariell Cannal. Inclusive, Clara e Mariana são parceiras cênicas e trabalharam em vários projetos como em As Criadas, Jean Genet; Sete Histórias, uma adaptação da obra Das Tripas Coração, de Ezter Liu.

Agnes de Deus já marcou presença nos palcos brasileiros. Teve uma montagem com Clarisse Abujamra, Cleyde Yáconis e Walderez de Barros em 1982. No Rio de Janeiro, a história de John Pielmeier ganhou uma produção com Lucélia Santos, Nicette Bruno e Yara Amaral.

Ficha Técnica – Agnes de Deus
Idealização: Ariell Cannal e Gabriela Westphal. Texto: John Pielmeier. Direção: Murillo Basso. Codireção: Yara de Novaes. Elenco: Clara Carvalho, Gabriela Westphal e Mariana Muniz. Assistência de Direção: Marcella Vicentini Desenho de luz: Aline Santini. Cenógrafa: Mira Andrade. Figurinista: Marichilene Artisevskis. Direção Musical E Trilha Sonora: Morris. Design Gráfico: Nando Medeiros. Fotos: Ronaldo Gutierrez. Assessoria De Imprensa: Adriana Balsanelli e Renato Fernandes. Produção Executiva: Rafaelly Vianna. Direção de Produção: Ariell Cannal / Cannal Produções.

 

 

 

 

 

Agnes de Deus
Teatro Aliança Francesa
Rua General Jardim 182 – Vila Buarque
Informações: (11) 3572-2379
Temporada: Até 3 de dezembro (Sexta e sábado às 20h | Domingo às 18h).
Preço: R$60,00 (Inteira) e R$30,00 (Meia).
Compra Online Sympla: https://bit.ly/agnesDeDeus
Classificação: 14 Anos
Duração: 100 Minutos
Ar-condicionado

www.teatroaliancafrancesa.com.br

 

Foto: Ronaldo Gutierrez

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